sexta-feira, 27 de maio de 2011

MOSTRA-NOS O PAI

A vocação paterna está em crise, o que leva a uma crise de liderança
Em processos de aquisição de casa própria ou em outras transações comerciais que envolvem famílias, não é raro que as responsabilidades sejam assumidas pelas mulheres, mães que trazem sobre si  tarefa de ser chefes de família, consideradas mais confiáveis. Hoje, no Estado do Pará, cerca de setecentas e trinta e quatro mil famílias são chefiadas pelas mães, que também fazem o papel de pai. Pesquisa divulgada pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos - Dieese, mostra que, entre os sete Estados que compõem a região Norte, o Pará está em primeiro lugar nessa questão. A quantidade de mães com dupla função familiar em todo o Norte é de um milhão e seiscentas mil. O Pará detém cerca de quarenta e seis por cento desse total.
Estes e outros dados apontam para uma mudança profunda nos papéis desempenhados pelos homens e pelas mulheres na sociedade. De um lado, a paternidade e a maternidade estão presentes em nossa natureza humana. Toda pessoa recebe esta missão, ainda que de formas diferentes. Ninguém nasceu para a esterilidade, mas todos nascemos para gerar, e não poderia ser de outro modo, pois somos imagens e semelhança de Deus, no qual estão presentes as características que, no ambiente humano, chamamos de paternidade e maternidade. E é o que de mais decisivo e maravilhoso Jesus nos contou a respeito de Deus: Ele é Pai que nos ama! Mas há uma crise na maternidade e, de modo especial, na paternidade.
A vocação paterna está em crise, o que leva a uma crise de lideranças maduras e corajosas no mundo. E quando faltam pais, idolatra-se a imagem de uma eterna juventude. Não basta ao homem ter filhos. É necessário assumir, de forma madura, a forma de amar para ser pais. A ausência física, a ausência afetiva, com medo de expressar carinho e afeto, a ausência normativa, que lhes impedem ser claros em seus critérios e não temam estabelecer limites. Faz-se necessário homens capazes de amar com vigor e ternura, assumindo a masculinidade e, ao mesmo tempo, a dimensão de ternura que o próprio Deus, forte e terno, plantou no coração.
Na Liturgia do quinto Domingo da Páscoa há um pedido que pode soar ingênuo: "Filipe disse: 'Senhor, mostra-nos o Pai, isso nos basta'. Jesus respondeu: 'Filipe, há tanto tempo estou convosco, e não me conheces? Quem me viu, tem visto o Pai. Como é que tu dizes: 'Mostra-nos o Pai'? Não acreditas que eu estou no Pai e que o Pai está em mim? As palavras que eu vos digo, não as digo por mim mesmo; é o Pai que, permanecendo em mim, realiza as suas obras. Crede-me: eu estou no Pai e o Pai está em mim. Crede, ao menos, por causa destas obras" (Jo 14, 8-11).
Bendita ingenuidade que nos aponta o essencial: conhecer o Pai. Com frequência se afirma que é difícil conhecer a Deus como Pai porque os modelos de paternidade estão em crise na terra, quando, na verdade, é o céu e a paternidade de Deus que vêm a ser acolhidos como modelo. É para o Pai Eterno que os pais da terra hão de levantar os olhos para contemplar o modo de viver aqui sua sublime vocação.
Para nosso consolo e formação, Jesus se mostra como aquele que é verdade e vida, a serem alcançadas passando pelo caminho para o Pai que é Ele mesmo. Tanto os pais como as mães ou filhos ou qualquer pessoa que queira se realizar plenamente têm no relacionamento com Deus ponto de chegada, mapa, caminho, sustento.
Aos cristãos cabem responsabilidades irrenunciáveis. Não lhes é lícito viver como órfãos ambulantes, lamentando-se da vida. Sabendo ter Pai no Céu, vivem para gerar vida e relacionamento, cabendo-lhes sempre a iniciativa do serviço e do amor a todas as pessoas, sem exceção. Seu relacionamento com os outros é de transbordamento da vida plena que encontraram. A paternidade e a maternidade a serem restauradas no mundo são assumidas como tarefa por eles.
É próprio dos cristãos a paixão pela verdade, a qual abraçam com toda clareza e a oferecem, sem violentar nem impor, dando razões da esperança que move seus corações a quem quer que seja. O caminho que percorrem é o do seguimento de Jesus Cristo, o Evangelho é sua luz e bússola segura. Sabendo que nasceram do amor eterno do Pai, ninguém lhes tira a alegria.
Tais características da vida cristã não são privilégio de poucos. Antes, a todos os que foram batizados em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo é aberta tal possibilidade e entregue esta missão de restauração.
Dom Alberto Taveira Corrêa

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