Está ligada ao sentido da procura incessante da vontade de Deus
“Pela profissão da obediência, os religiosos oferecem a Deus, como sacrifício de si mesmos, a plena entrega de sua vontade e por isso se unem mais constante e plenamente à vontade salvífica de Deus” (Perfectae Caritatis n. 14).
A prática das virtudes e o desejo da santidade são, nesta vida, preparação e desenvolvimento da vida eterna. Para o monge, constitui isso o conteúdo de sua vocação, pois este é convidado a viver já aqui na terra as realidades celestes. Para a realização desta tão sublime vocação, São Bento estabelece o recinto do mosteiro, como lugar propício ao seu desenvolvimento, é a chamada “escola do serviço do Senhor”.
Nessa escola, porém, a perfeição não é buscada como algo particular do monge, mas, comum a todos os membros desta comunidade que poderá chamar-se santa, já que somará mais que santos individualmente.
A comunidade é formada pelo Abade e pelos irmãos, a quem Bento dedica os capítulos 2 e 3 da Regra. É na obediência que encontramos o ponto fundamental de união entre essas duas partes, é ela o elemento vital que une todos os membros desse corpo único, que é o mosteiro. É pela obediência também que se viabiliza a prática da tão importante virtude da estabilidade, destacada por São Bento no capítulo IV de sua Regra, quando indica os instrumentos das boas obras, pois é por meio da autoridade que se evita tudo que perturbe a comunidade, ao passo que se realiza tudo que possa favorecê-la; se não há uma relação harmônica de obediência entre a cabeça e os membros do corpo é impossível haver comunidade e comunhão.
Podemos dizer que a obediência é o que caracteriza a vida do monge cenobita. É ela a alma do seu compromisso cristão.
Descrevendo os quatro gêneros de monges – anacoretas, sarabaítas, giróvagos e cenobitas – no capítulo I de sua Regra, São Bento caracteriza o “poderosíssimo gênero dos cenobitas” como “aquele que milita sob uma regra e um abade” (RB1,2), ou seja, que vive sob a obediência.
Para São Bento, a obediência não é apenas a aceitação e o cumprimento das prescrições das constituições e dos superiores pela obrigação, nem confere a ela o mero valor funcional, sendo necessário para o bom funcionamento da comunidade apenas.
Obediência em São Bento tem um sentido mais dinâmico e amplo; traz uma noção teológica e cristológica, uma noção que inclui tudo o que a Sagrada Escritura expressa com o complexo conceito de obediência.
Como tudo na vida do monge,a obediência, que é simultaneamente amor e serviço aos irmãos, é um sinal escatológico, isto é, tem uma referência à dimensão de eternidade da vida humana. Pelo voto de obediência, o monge coloca-se de maneira mais eficaz no mistério da vontade do Pai, aceito e vivido por Jesus. Por intermédio de seu voto, o monge entra diretamente no caminho escolhido por Cristo e participa com Ele da missão de levar o mundo a seu verdadeiro destino, o Pai.
Para compreender-se o sentido real da obediência que o monge professa, segundo Dom André Louf, é preciso fazer-se a distinção entre a obediência política e a obediência evangélica na comunidade monástica.
Segundo ele, ainda hoje, na espiritualidade corrente há uma confusão entre essas duas formas de obediência. A obediência política consiste em que os membros de uma sociedade prestem obediência a um chefe, em vista do bem comum e este, por sua vez, é obrigado a dar ordens a serviço do bem comum também.
A obediência evangélica está ligada ao sentido da procura incessante da vontade de Deus, à escuta dessa vontade e estar disponível a ela, entregando-se ao seguimento de Cristo até o Pai, passando pela morte. É claro que as duas são importantes e necessárias no mosteiro, porém, a primeira está dentro da dimensão da segunda. Bento não se esquece da organização material da Casa de Deus, no entanto, realça também nelas a realidade sobrenatural. “Veja todos os objetos do mosteiro e demais utensílios como vasos sagrados do altar” (RB.31,10).
Por um monge do Mosteiro da Transfiguração
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