O tempo da Quaresma, na prática do cristão, é como a chegada de uma nova vida. É um processo que chamamos de conversão, de transformação, transfiguração e de novo começo. Tudo isso acontece levando-se em conta a forma de vida de Jesus Cristo. É um caminho de vitória, mas que passa pelos compromissos da cruz.
Não é fácil entender o amor de Cristo na cruz, porque nossa cabeça é feita pelo mundo em que vivemos. A palavra “mundo” relativiza aquilo que é relacionado com a palavra “céu”. Deus amou o mundo dando-nos o próprio Filho para nos trazer as condições de vida digna. Isso aconteceu no Seu gesto de doação que culminou na cruz. Dizemos que o mundo é bom. Ele é a natureza onde Deus mora. Até dizemos que ele é bom e nós é que somos ruins. Nós é que o destruímos pelas estruturas perversas, por más administrações, pela corrupção de toda ordem, pela corrida ofegante pelo poder e a busca desenfreada de satisfações momentâneas.
Ter um novo nascimento é fazer acontecer a partilha e a fraternidade verdadeiras, participar da mesa comum fazendo a vontade de Deus “assim na terra como no céu”. Nesta dimensão, os sofrimentos nunca podem ser entendidos como castigo de Deus, mas sim condições de uma doação constante em busca de saúde e vida. Muitas de nossas práticas de hoje nos tornam impuros e indignos de participar do “Banquete do Senhor”. Deixamos que a injustiça nos domine e de ser fiéis aos princípios da vida, “fazendo como todo o mundo faz”. Neste contexto, as ações do cristão devem fazer a diferença no cumprimento da vontade de Deus.
Jesus fala em “nascer de novo”, que acontece na força da cruz. É uma questão de fé, porque quem não crer n'Ele, vai acreditar na força do dinheiro, do poder, do prestígio, da fama e da competição. Crer em Jesus é crer na cruz. O mundo da arrogância odeia a luz e a cruz, e perde o sentido verdadeiro da vida e da verdade.
Dom Paulo Mendes PeixotoArcebispo de Uberaba - MG
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