Estamos refletindo sobre a dinâmica do nosso interior. “No meu interior tem Deus” significa, em primeiro lugar, que Deus habita dentro de nós. Somos portadores da Sua presença. Contudo, esta presença divina em nós é muito discreta. Ela exige de nós um processo de descoberta. Não se trata de um simples “passe de mágica”. Não basta estar ciente de que Deus está dentro de nós e pronto! Não, meus irmãos. É preciso fazer uma linda experiência com esta divina presença em nosso interior.
O nosso mundo é muito imediatista, por isso, somos desafiados constantemente a fazer um caminho de interioridade, precisamos construir esta interioridade .
O processo de construção da própria interioridade não nos priva da luta, precisamos nos empenhar neste processo, e voltarmo-nos para dentro de nós mesmos. E isso não em uma espécie de “ostracismo”, fechado egoísticamente em si, mas sim olhando para a presença
divina que age em nós e através de nós.
Não se iluda: viveremos a luta neste processo. Diante da perda de um ente querido, diante de uma situação de dor e de sofrimento, nós nos questionamos: “Por quê?” Mas a busca verdadeira que precisamos fazer nesta hora dolorosa é a de descobrirmos o sentido PARA o qual caminhamos mediante esta tribulação.
O beato João Paulo II nos ensinou a respeito da dolorosa experiência do silêncio de Deus. Não é fácil, meus irmãos, caminhar sem respostas. O mundo é muito imediatista. Lembra-se? Mas precisamos reconhecer que as respostas virão com o tempo, com os passos a serem dados a cada dia, dentro deste processo da busca de uma interioridade.
Deus quer falar ao nosso interior. E, neste caminho de regresso interioridade, você precisa estar atento a coisas bem concretas. Jesus se fez humano, Ele se fez gente. E por que disso? Para carregar as nossas fragilidades e alegrias, para se fazer um de nós, exceto no pecado.
Deus não é distância. Ele é proximidade. Ele assumiu as nossas fraquezas. Mas, infelizmente, nós ficamos nos culpando pelas nossas limitações. Não somos é o “super-homem” ou a “mulher-maravilha”. Vamos errar, pois ainda não somos perfeito. Portanto, é preciso que respeitemos nossa própria humanidade.
Quantas pessoas vivem cobrando as outras porque, na verdade, elas mesmas se cobram demais. Pessoas que não conseguem se reconciliar com a sua própria história. Quem não consegue fazer uma experiência de fraqueza na vida terá muita dificuldade em reconhecer a grandeza do amor de Deus.
Deus nos ama não somente por aquilo que fazemos de bom. Ele também nos ama pelas nossas virtudes. Mas, saiba, Deus também nos ama a partir daquilo que trazemos de pior. Eis a gratuidade do amor de Deus! Ele nos ama com esse amor ágape. Um amor sem medidas e que vai ao encontro de nossas mais profundas misérias.
Neste caminho de interioridade quantas feridas, quantos recalques, quantas mágoas e ressentimentos encontraremos dentro de nós. Olhe quanto entulho há dentro de nós e que sufoca a voz de Deus em nosso interior. Não tenha receio de entrar nesta “caverna” e arrancar de lá estes entulhos. Reconcilie-se com a sua história!
Vamos encontrar muita coisa que não gostaríamos de nos deparar durante este caminho de regresso. Mas não desista! Vale a pena fazer este caminho regresso. Vale muito a pena descobrir Deus em nosso interior!
Agora, esta descoberta, não fazemos sozinhos. Somente com o auxílio divino. É Deus que se deixa revelar a cada um de nós. Sozinhos nós não conseguimos remover estes escombros, estes entulhos. Somente Jesus, com o Seu jeito de ser e de falar, é que consegue extrair de nós o melhor que trazemos.
Quando nos depararmos com estes escombros, creia: Jesus nos ajudará. Ele mesmo virá em nosso auxílio para retirar estes entulhos que trazemos em nosso interior.
Veja o que nos afirma a Palavra de Deus em João 4,5-19:
"Chegou, pois, a uma cidade da Samaria, chamada Sicar, perto da propriedade que Jacó tinha dado a seu filho José. Havia ali a fonte de Jacó. Jesus, cansado da viagem, sentou-se junto à fonte. Era por volta do meio dia. Veio uma mulher da Samaria buscar água. Jesus lhe disse: “Dá-me de beber!” Os seus discípulos tinham ido à cidade comprar algo para comer. A samaritana disse a Jesus: “Como é que tu, sendo judeu, pedes de beber a mim, que sou uma mulher samaritana?” De fato, os judeus não se relacionam com os samaritanos. Jesus respondeu: “Se conhecesses o dom de Deus e quem é aquele que te diz: ‘Dá-me de beber’, tu lhe pedirias, e ele te daria água viva”. A mulher disse: “Senhor, não tens sequer um balde, e o poço é fundo; de onde tens essa água viva? Serás maior que nosso pai Jacó, que nos deu este poço, do qual bebeu ele mesmo, como também seus filhos e seus animais?” Jesus respondeu: “Todo o que bebe desta água, terá sede de novo; mas quem beber da água que eu darei, nunca mais terá sede, porque a água que eu darei se tornará nele uma fonte de água jorrando para a vida eterna”. A mulher disse então a Jesus: “Senhor, dá-me dessa água, para que eu não tenha mais sede, nem tenha de vir aqui tirar água”. Ele lhe disse: “Vai chamar teu marido e volta aqui!” — “Eu não tenho marido”, respondeu a mulher. Ao que Jesus retrucou: “Disseste bem que não tens marido. De fato, tiveste cinco maridos, e o que tens agora não é teu marido. Nisto falaste a verdade”. A mulher lhe disse: “Senhor, vejo que és um profeta!"
Preste atenção, meu irmão, neste diálogo. Veja a paciência com a qual Jesus tem para entrar na nossa história. Esta mulher samaritana tinha uma história “rasa”. Era uma mulher confusa, perdida, tinha vida enrolada. Veja a pedagogia de Jesus: Ele vai pacientemente entrando na história desta mulher, conversa com ela, mostra suas feridas, mas Jesus não fica somente nisso, ele também indica àquela mulher o que ela trazia de bom.
Jesus tem uma “água viva” para nos oferecer, Ele quer hoje saciar a nossa sede, a sede da nossa alma. Você que hoje está se machucando em meio aos vícios, à prostituição, à violência e tantos outros males, saiba: Jesus quer saciar a sede da sua alma! Deixe Ele entrar na sua vida e transformar o seu interior. Jesus revela à samaritana sua identidade de filha de Deus.
Hoje o Senhor quer fazer isso conosco: Ele nos revela a nossa identidade de filhos de Deus. Esta é a nossa real identidade. Somos feitos para a felicidade e não para a amargura.
Façamos hoje esta descoberta. Deixemos Jesus sentar-se ao lado do “poço” da nossa existência e falar conosco. Ele quer indicar nossas mazelas e a nossa real identidade. Desta forma, descobrimos a felicidade a partir da bela constatação de que no nosso interior tem Deus.
E, a partir desta constatação, ame concretamente. Porque no nosso interior tem Deus, podemos e devemos agir com amor e por amor.
Hoje é o dia para você exercer gestos concretos de amor: um beijo, um abraço, um presentinho (quem não gosta de ganhar um?), um elogio, uma palavra de carinho, enfim, porque Deus habita dentro de nós e descobrimos a Sua presença em nosso interior, reconhecemos a força deste amor que supera todas as feridas e mágoas que trazemos.
Padre Adriano Zandoná
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