terça-feira, 24 de julho de 2012
NÃO BASTA TER SOMENTE A FÉ
“ Tudo isto e coisas ainda mais duras haveriam de sofrer os judeus, não só porque crucificaram Cristo, mas porque, depois disto, trataram também de impedir aos apóstolos de pregarem a doutrina de nossa salvação. Isso lhes jogava na cara o bem-aventurado Paulo, que também lhes profetizou estes males, dizendo: “Sobre eles cairá a ira até o fim” (1 Ts 2, 16).
Mas o que tem a ver – dirá alguém – tudo isto conosco? Porque nós não afastamos ninguém da fé e nem impedimos que se pregasse.
E para que vale – dizei-me – a fé, se a vida não é pura? Mas talvez vós ignorais também esta verdade, já que não escutais nenhuma doutrina nossa. Pois eu vos vou enumerar as sentenças de Cristo e observai vós se não se condenou de algum modo a vida e só se estabeleceram castigos acerca da fé e da doutrina. E, de fato, tendo subido ao monte, vendo aquela grande multidão que o rodeava, depois de outras muitas exortações, disse: “Nem todo o que me disser: Senhor, Senhor, entrará no reino dos céus, senão aquele que fizer a vontade do meu Pai” (Mt 7, 21). E também: “Muitos me dirão naquele dia: Não profetizamos em teu nome e em teu nome expulsamos demônios e em teu nome realizamos muitos prodígios? E eu então lhes direi: Afastai-vos de mim, obreiros da iniquidade: Não vos conheço” (Mt 7, 22-23).
E o que ouve suas palavras mas não as põe em prática, disse ser semelhante a um homem tolo que edifica sua casa sobre a areia, fazendo-a presa fácil de rios, chuvas e ventos (cf. Mt 7, 24-27). E em outra ocasião, falando ao povo: “Da maneira como os pescadores, quando puxam a rede, separam os peixes ruins; assim será naquele dia, quando os anjos lançarão na fornalha ardente todos os que houverem cometido pecados.” (Mt 13, 47)
E falando dos homens dissolutos e impuros, dizia: “Irão onde está o verme que não morre e o fogo que não se apaga” (Mc 9, 44). E outra vez: “Um rei”, disse, “celebrou um banquete de bodas para seu filho e tendo visto um homem que estava vestido com roupas sujas, lhe disse: Amigo, como entraste aqui sem estar vestido com a veste nupcial? E o outro emudeceu. Então disse a seus servos: Atai-os de pés e mãos e lançai-o nas trevas exteriores” (Mt 22, 11-13).
Ameaça com que apontava a intemperantes e dissolutos. E as virgens imprudentes foram excluídas da sala nupcial pela sua crueldade e desumanidade. E pela mesma causa irão outros para o fogo eterno, preparado para satanás e seus anjos. (cf. Mt 25, 31ss). E condenados serão também os que falam sem razão nem motivo. “Porque pelas tuas palavras”, disse, “serás justificado e pelas tuas palavras serás condenado” (Mt 12, 37).
Logo parece-te que sem motivo andamos tão temerosos pela nossa vida e colocamos tanto afinco na parte moral da filosofia? Não penso desta maneira, certamente, a não ser que digas que tampouco Cristo teve motivo para dizer tudo isso e muito mais do que isso, pois não iremos transcrever aqui todo o Evangelho. E se não temesse alongar meu discurso, pelos profetas, pelo bem-aventurado Paulo e os outros apóstolos poderia mostrar-te quanto empenho o próprio Deus pôs nesta parte. Mas creio que basta o que disse; ou, melhor, não só basta o que disse, mas a menor coisa que dissemos. Porque quando é Deus que afirma algo, ainda que o dissesse uma só vez, temos que recebê-lo como se mil vezes houvesse repetido.
São João Crisóstomo
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