Sacerdote acredita que documento tem a marca da transição e um grande valor histórico
Lumen fidei – a luz da fé. Esse é o primeiro documento do Papa Francisco, uma encíclica que busca recuperar o caráter de luz específica da fé, capaz de iluminar a existência humana.
Uma particularidade do documento é sua autoria. Embora publicada no pontificado de Francisco, a encíclica começou a ser escrita por Bento XVI, hoje Papa emérito. Eis, então, uma novidade para a Igreja: um documento escrito por dois Papas.
Assessor da Comissão para a Doutrina da Fé da CNBB, padre Antônio Luiz Catelan Ferreira, comenta que o texto que já estava sendo preparado por Bento XVI, por isso, quando ele renunciou, gerou-se até uma expectativa de qual seria o destino do documento: se seria publicado como uma obra pessoal ou como uma reflexão. Foi, então, que Francisco, com delicadeza, resolveu assumir o texto e o publicou.
Segundo o padre, é possível perceber alguns elementos quando se lê a encíclica. Um deles, é a linguagem típica de Bento XVI; a marca de Francisco está clara mais na introdução e na conclusão.
“Eu diria que tem a marca da transição, porque é um documento elaborado por dois Papas, assumido por um. (…) É um texto que, seguramente, mais para o futuro, vai despertar a atenção de muitos estudiosos, vai se descobrir a riqueza maior desse documento”.
Essa duplicidade na escrita reveste o documento de um grande valor histórico, segundo padre Catelan, até mesmo por testemunhar um momento específico da história da Igreja: a transição após a renúncia. Também agrega valor o fato de que Francisco tenha decidido dar continuidade a um projeto pessoal de seu predecessor. De acordo com o sacerdote, isso mostra que a Igreja não é feita de rupturas.
“A Igreja é um organismo vivo, e a sucessão de Papas certamente muda um pouco o estilo, as ênfases, o tom de abordar certos assuntos, mas não é uma nova Igreja. (…) Não tem a Igreja de João Paulo, a Igreja de Bento, a Igreja de Francisco como, às vezes, a gente ouve, sobretudo na mídia, com um menor grau de informação teológica. A Igreja é uma só e o Papa que está à frente é um servidor, é o primeiro dos servidores”.
Padre Catelan explica ainda que, justamente por essas peculiaridades, as características do Papa Francisco não se refletem nesse primeiro documento de forma tão personalizada como acontece em outros textos, como discursos e homilias. “Ele nem teve tempo para imprimir mais o seu caráter ao documento. E acho até que ele quis respeitar o texto feito por Bento do modo como estava”.
A temática da fé é uma das preocupações da Igreja e é abordada de forma diversa pelos Papas. O sacerdote acrescentou ainda que ao convocar a assembleia extraordinária do sínodo sobre a família, o Papa Francisco deu continuidade à grande problemática da transmissão da fé. Isso porque o ambiente familiar é fundamental para a vivência e a transmissão da fé.
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