Como é bom contextualizar a leitura e trazê-la para a nossa vida, para o que está acontecendo com ela! Quero que você acompanhe o que eu digo, a fim de que se aproxime de Jesus, de Sua presença silenciosa e discreta. Acompanhe o Senhor entrando naquela sala, durante a Santa Ceia, com os discípulos e imagine-os sentando-se à mesa. Até então, tudo transcorria normalmente, mas, certamente, alguém perguntou: “Onde está o cordeiro?”, pois não havia sacrifício sem cordeiro. De repente, o Senhor se levanta e diz: "Eu desejei, ardentemente, celebrar convosco essa Páscoa” (Lc 22,15).
O que é um desejo ardente, senão a expressão máxima de um amor que jorra de dentro para fora? Todas as vezes que nos reunimos em torno do altar, devemos ter esse desejo ardente. É como o Senhor repetindo: “essa é a grande hora”.
A Lei foi cumprida antecipadamente naquele dia. As promessas se cumpriram no sofrimento do Redentor. Ele quis antecipar aquele acontecimento único e eterno. Naquela hora, disse uma palavra muito importante: “O que faço, agora, não compreendeis, mas compreendereis depois”. Compreendemos agora que esse sacrifício se repete inúmeras vezes na Eucaristia.
É lamentável quando alguém diz que vai "assistir à Missa". Jesus não nos mandou "assistir". Quem assiste é expectador; nós assistimos à televisão, ao futebol, ao teatro, mas a Eucaristia, não! Dela nós participamos.
Continuando a cena do Evangelho, vemos que o senhor ergueu o pão e disse: “Este é o meu Corpo que será entregue por vós” (Lc 22,19). É preciso parar e refletir as palavras de Cristo. Os discípulos são aqueles que se sentam à mesa com Jesus. A Eucaristia não é apenas uma lembrança, é o sacrifício que se renova e não se repete. É Deus nos sacramentos.
Quando amamos alguém, o que mais desejamos? Estar com o amado, não é? Este é o desejo de Deus. Ele esvaziou-se de si mesmo e foi obediente até a morte na cruz. Ele nos quis assim, numa intimidade tão grande que nos levou, por meio da Eucaristia, a participar do mistério de Sua Morte e Ressurreição.
Como é necessário nos aproximarmos de Jesus e Lhe dizer: “Só o Senhor me basta, meu Amado, estou aqui eu O recebo. Recebe-me como estou e me devolva como o Senhor me quer”.
Depois, o Senhor ergueu o cálice com o vinho e pronunciou: “Este é o cálice do meu Sangue, o sinal da nova e eterna aliança” (Lc 22,20). Em cada Missa celebramos a eterna aliança do amor de Deus por nós. “Este é o meu Sangue derramado por vós para remissão dos nossos pecados”. Esse o fundamento primeiro de toda a pregação, é o princípio básico de todo aquele que quer estar com Deus.
Logo em seguida, o Senhor se levanta, tira Sua túnica e diz: “Eu sou o seu Mestre, aprendei de mim que sou manso e humilde de coração” (Mt 11,29). Ele lavou os pés dos discípulos. Quem lavava os pés das pessoas, no tempo de Jesus, eram os escravos. Não há celebração de Eucaristia que não nos leve ao serviço.
A Eucaristia nos alimenta e nos leva a servir a um mundo cheio de violência e pecado. Após aquele momento, o Senhor vai com os Seus para o Getsêmani. Como é bom estar, ali, com o Senhor! Quer vencer as tentações? Ore! Foi isso que Jesus disse aos Seus discípulos: “Orai e vigiai para não cairdes em tentação”. O Senhor chega a suar sangue de tamanha agonia.
Vemos, agora, o Senhor que é preso, açoitado, coroado de espinhos e atado. Naquela época, quem era atado, na quinta-feira antes da Páscoa, era o cordeiro. Jesus é o Cordeiro condenado. Pilatos lava as mãos por Jesus e diz que o sangue daquele inocente recairia sobre as cabeças de cada um de dos próprios filhos.
Depois, Jesus, desfigurado, toma a própria cruz, que é a de cada um de nós, e sobe o Calvário para ser imolado pelos nossos pecados. Jesus não levou nenhum cordeiro, nenhum bode, mas, graças às Suas próprias chagas, Ele abriu para nós o céu.
Contemple, agora, Jesus crucificado no Calvário. Ele foi crucificado e tinha uma sede tremenda de nos salvar. É um sacrifício grande demais para dizermos que vamos "assistir à Missa" ou que não vamos "assisti-la", porque não temos tempo.
O Cordeiro estava lá, imolado na cruz, por volta do meio-dia. No Calvário, Deus feito homem está crucificado; Ele entrega Seu Espírito ao Pai. Na mesma hora, Caifás oferece um sacrifício de bodes e carneiros no templo, e o véu do templo se rasga. É Deus dizendo que não precisa mais de sacrifício de cordeiros, pois aconteceu o supremo sacrifício de Seu próprio Filho. Tudo isso acontece, durante a Santa Missa, todos os dias. Que valor tem o Santo Sacrifício!
Participar da Eucaristia e ter, no coração, a gratidão. São João Maria Vianey dizia que “a Missa é o Céu na Terra por alguns instantes”. Que nós padres não sejamos funcionários da instituição, mas celebrantes do sacrifício de Jesus, do amor de Deus.
Existe um caminho seguro que nos leva ao Céu: o altar, o sacrifício do Cordeiro.
Padre Adílson Simões
Sacerdote pernambucano
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