Quando eu era criança e queria com outros meninos incentivar um amigo a fazer coisas inacreditáveis, usávamos sempre essa frase: “Duvido! Você não teria coragem”.
Como isso incentiva um jovem a fazer certas coisas que nunca faria por decisão própria! Muitas vezes, vivíamos diversas aventuras, porque alguém resolveu provar que ‘sim’, tinha coragem. O fato é que a coragem é própria do ser humano, de maneira especial do homem que, para não ser visto como covarde, é capaz de tomar decisões inconsequentes.
A virtude de ser corajoso não é uma característica exclusiva dos dias atuais. Conhecendo bem a Bíblia, percebemos que a coragem diz do homem que se relaciona com Deus. Há vários momentos em que é o próprio Senhor quem busca despertar em seus escolhidos o dom de ser “forte e corajoso” (conf. Dt 31,6). Podemos encontrar, na Bíblia, 82 vezes a palavra “coragem”, todas elas envolvendo um contexto de ordem de Deus.
Quando lemos sobre a vida de Davi, constatamos o quão forte e corajoso ele era. A Bíblia narra vários fatos que demonstram a coragem de Davi. Mas precisamos observar que não é uma virtude que surge da noite para o dia, até ser Rei de Israel e um valente guerreiro ele foi treinado por Deus, durante sua vida, para que essa característica fosse se desenvolvendo e se tornando nele um valor. Podemos confirmar isso quando o vemos prestes a desafiar o gigante Golias. O Rei Saul lhe diz: “Não és capaz de enfrentar esse filisteu. Tu és ainda um menino, e ele, um homem de guerra desde a sua juventude”. Davi prontamente lhe responde que cuidando do rebanho de seu pai, quando um leão ou um urso tomava um carneiro do rebanho ele os perseguia e matava, tirando-lhes a presa da boca (Conf. I Sm 17, 33 – 34). Deste modo podemos compreender que a coragem de Davi é uma qualidade desenvolvida pelas provas que foi enfrentando ao longo de sua vida.
Deus se utiliza de cada situação que vivemos para forjar o nosso caráter, e assim como com Davi, Deus quer usar de fatos do nosso dia a dia para firmar em nós virtudes que nos ajudarão na caminhada. Antes de tudo é preciso compreender que a verdadeira coragem não está ligada apenas a enfrentar gigantes, ursos ou exércitos. Depois podemos notar que há dois principais traços fortes em um homem verdadeiramente corajoso: a confiança em Deus e a capacidade de ser o que é.
Após a morte de Saul, Davi está refugiado com seus companheiros. Saul era o único empecilho para que Ele assumisse o reino, e agora morto já não poderá atrapalhar mais. Assim, ao saber da morte de Saul Davi poderia voltar tranquilo e assumir o reinado, mas antes de qualquer coisa Davi consulta o Senhor para tomar a decisão correta. Neste acontecimento vemos o primeiro traço marcante da verdadeira coragem: A confiança em Deus. “Depois disso, Davi consultou o Senhor: Devo subir a alguma das cidades de Judá?, perguntou ele. Vai, respondeu o Senhor. Davi retomou: Aonde irei? A Hebron” (II Sm 2, 1). Queremos resolver do nosso jeito, ir na direção que pensamos ser a melhor, porém é preciso, a exemplo de Davi, estar alicerçado em uma grande confiança em Deus para compreendermos que Ele tem o melhor para nós.
O segundo traço de um homem corajoso: não muda o que é para agradar as pessoas. Davi tem a coragem de ser o que é, mesmo quando criticado. “Micol, filha de Saul, veio-lhe ao encontro e disse-lhe: Como se distinguiu hoje o rei de Israel, dando-se em espetáculo às servas de seus servos, e descobrindo-se sem pudor, como qualquer um do povo! Foi diante do Senhor que dancei, replicou Davi; diante do Senhor que me escolheu e me preferiu a teu pai e a toda a tua família, para fazer-me o chefe de seu povo de Israel. Foi diante do Senhor que dancei. E me abaixarei ainda mais, e me aviltarei aos teus olhos, mas serei honrado pelas escravas de que falaste” II Sm 6, 20 – 23. Quantas vezes queremos agradar as pessoas assumindo o que eles pensam sobre nós e assim não vivemos a nossa verdade e nos tornamos um resultado da expectativa que o outro coloca sobre nós. É certo que devemos ouvir a opinião das pessoas que nos amam e querem nos ajudar, porém, há primeiro que mirar o que o Senhor pensa sobre nós, afinal “temos buscado a aprovação dos homens ou a de Deus?” (Conf. Gl 1, 10). É ao Senhor que devemos agradar!
Davi não tinha como prioridade o que os outros diziam, para ele o mais importante é o que o Senhor pensava a seu respeito. Não podemos permitir que as pessoas nos roubem de nós mesmos. E só o Espirito Santo nos dá a liberdade para sermos verdadeiramente quem somos.
Peçamos que Deus nos dê a graça de aproveitarmos cada situação que vivemos para que assim o Senhor construa em nosso caráter a riqueza da verdadeira coragem como forjou em Davi. Fazendo com que cresça em nós a confiança e a firme decisão de seguirmos a inspirações Dele para que não nos tornemos um resultado do que as pessoas pensam e pedem de nós.
Nenhum comentário:
Postar um comentário