Que a misericórdia de Jesus nos cure da cegueira espiritual, a qual nos mantém alheios às verdades profundas e verdadeiras e só nos permite enxergar o que queremos.
“Ai de vós, mestres da Lei e fariseus hipócritas! Vós fechais o Reino dos Céus aos homens. Vós porém não entrais, nem deixais entrar aqueles que o desejam” (Mateus 23, 13-14).
Jesus, Mestre e Senhor da bondade e da misericórdia, tratou de modo tão afável e tão terno os doentes, os pecadores e o pior dos pecadores. Todos foram acolhidos com muito amor e com muita ternura pelo coração do Mestre Jesus.
E quando Jesus diz: “ai” quer dizer que dói ou há de doer muito, então a interjeição de Jesus se volta com muita firmeza e dureza contra os fariseus e os doutores da Lei. Muitas vezes, estes se comportam como os grandes conhecedores da Lei Divina, da Palavra de Deus, julgam, condenam os outros e colocam muitas dificuldades para que as pessoas possam viver a Lei de Deus. Estão mais voltados e preocupados com a letra e com a lei do que com o espírito da lei e o espírito da letra. Estão mais preocupados com os preceitos humanos do que com a santificação divina; sobretudo porque, muitas vezes, o comportamento deles não corresponde ao que pregam, ao que ensinam e, principalmente, ao que exigem dos outros. Jesus os repreende, dizendo-lhes: “guias cegos!” (cf. Mt 23, 16)
Deixe-me dizer a você: não existe coisa pior para quem é um guia, para quem é o mestre, para quem é um pai, para quem é uma mãe, para quem é chefe e para quem é um líder do que ser cego. Porque a primeira coisa que a cegueira faz é não nos permitir nos ver a nós mesmos e as realidades como elas realmente o são. Não me refiro à cegueira física, mas sim à terrível cegueira espiritual, à cegueira psicológica, à cegueira que nos mantém alheios às verdades profundas e verdadeiras e só permite que enxerguemos aquilo que queremos enxergar. Como é duro ser cego! O cego conduz os outros e, muitas vezes, os conduz para o erro, ensinando-os a errar e da mesma forma conduzindo a sua vida pelos caminhos errados.
Nós hoje queremos clamar pela misericórdia do coração de Jesus; primeiro, pedindo-Lhe que nos livre do espírito do farisaísmo e da hipocrisia de muitas vezes sermos duros e exigentes demais com os outros; repararmos, olharmos a vida dos outros e não sermos capazes de reparar em nossa própria vida, de revermos nossos próprios erros, nossos próprios limites. E acima de tudo, não sabermos ter um olhar de misericórdia para com os outros, sermos demasiadamente severos na cobrança e na exigência com eles.
Quem é muito duro com os outros não consegue ser, na verdade, autêntico consigo mesmo. Ao passo que quem vive uma autenticidade de vida conhece suas misérias, não é que seja complacente e conivente com o erro dos outros, mas, assim como conhece a misericórdia de Deus conduzindo suas misérias, sabe também ter misericórdia com os limites do outro.
Padre Roger Araújo
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