O jejum têm quatro sentidos muito específicos e claros:
1. O jejum nos ensina que somos radicalmente dependentes de Deus. Nossa vida não vem de nós mesmos, nós a recebemos continuamente. Precisamos de alimento para permanecer vivos. Quando jejuamos, sentimos certa fraqueza que nos recorda que nada somos sem esta vida que vem de fora. A prática do jejum, portanto, nos impede de pensar que a nossa existência é autônoma, nós dependemos de Deus. A prática do jejum nos recorda que a vida é para ser vivida em diálogo com Aquele que nos deu a vida.
2. A abstenção do alimento nos exercita na disciplina, fortalecendo nossa força de vontade. O alimento é uma de nossas necessidades básicas, um de nossos instintos mais fundamentais e nossa tendência é ir atrás desses nossos instintos, de nossa vontade desequilibrada. O jejum, portanto, é um treino para que sejamos senhores de nós mesmos, de nossas paixões, desejos e vontades. Assim, seremos realmente livres para Cristo!
3. O jejum tem também a função de nos unir a Cristo, no seu período de quarenta dias no deserto. Quaresma de Cristo, quaresma do cristão. Faz-nos, assim, participantes da paixão do Senhor, completando em nós o que faltou à cruz de Jesus. O cristão jejua por amor a Cristo e para unir-se a ele, trazendo na sua carne as marcas da cruz do Senhor. É uma união com o Senhor que não envolve somente a alma, com seus sentimentos e afetos, mas também o corpo. É o homem todo, a pessoa na sua totalidade que se une ao Cristo.
4. O jejum faz-nos recordar aqueles que passam privação, sobretudo a fome, abrindo-nos para os irmãos necessitados. Há tantos que, à força, pela gritante injustiça social, jejuam e se abstêm todos os dias, o ano todo! O jejum nos faz sentir um pouco a sua dor, tão concreta, tão real, tão dolorosa! Por isso mesmo, na tradição da Igreja, o jejum deve ser acompanhado sempre pela doação: aquele alimento do qual me privo, já não é mais meu, mas deve ser destinado ao pobre. É por isso que os pobres, ainda hoje, nos dias de jejum, pedem nas portas o “meu jejum”.
Padre Reginaldo Manzotti
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