terça-feira, 1 de março de 2011

A MORALIDADE É OURO

É preciso criar o gosto pela transparência e pelo que é honesto
A sociedade está povoada de notícias que comprovam o quanto a corrupção e a desonestidade estão corroendo relações, provocando prejuízos irreversíveis na vida de cidadãos e de famílias, com sérios comprometimentos sociopolíticos. A confiança que se deposita em pessoas, no exercício de suas responsabilidades funcionais e ofícios, está e certamente continuará sendo abalada. O mesmo ocorre também na relação com as instituições, que têm tarefas de proteção aos direitos e à integridade de todos, constituídas para proteger o bem público, garantir a ordem e a justiça. Quando menos se espera, estouram aqui e ali acontecimentos que provocam decepção e generalizam a insegurança. Não se esperam conivências interesseiras dos que têm tarefa de garantir a justiça. Conveniências que comprometem a vida de jovens e de outros que têm seus sonhos inviabilizados de maneira irreversível.
As providências que governos, instituições e outras instâncias da sociedade precisam e devem tomar diante de fatos graves no tecido social e cultural, não podem retardar mais a consideração da moralidade como ouro na história de todos. Esse cenário, com suas violências, desmandos, corrupções, tráficos e outras condutas imorais, é origem de tudo o que esgarça o tecido moral da cidadania. Valor que é a base para vencer seduções e ter força para permanecer do lado do bem, com gosto pela justiça e fecundo espírito de solidariedade. É imprescindível redobrar a atenção quanto à moralidade que baliza a vida de cada indivíduo e regula suas relações. É urgente e necessário avaliar o quanto o relativismo tem emoldurado critérios na emissão de juízos, na formatação de discernimentos, trazendo direções equivocadas e prejudiciais nas escolhas, tanto no âmbito privado quanto no exercício da profissão, da política e de outras ocupações na sociedade.
É preciso diagnosticar esses pontos críticos na moralidade sustentadora da conduta cidadã e honesta. Não se pode desconsiderar a gravidade da situação vivida neste tempo de avanços e conquistas - marcado pela "démarche" (disposição para resolver assuntos ou tomar decisões) - imposta pela falta de moralidade pública, profissional e individual. Jesus, em Seus preciosos ensinamentos para bem formar os discípulos, não deixava de advertir e indicar critérios para comprovar os comprometimentos da moralidade. Ele dizia que “o irmão entregará o irmão à morte, o pai entregará o filho; os filhos ficarão contra os pais e os matarão”, convidando-os para não se escandalizarem e a permanecerem firmes diante do caos provocado pela imoralidade. A decomposição das relações familiares configura o paradigma da perda da moralidade, considerando a família com seu insubstituível papel de formadora de consciência.

Com a família, o conjunto das instituições educativas, religiosas e outras prestadoras de serviços à sociedade, é preciso fortalecer o coro de vozes, como o fez a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), quanto à necessidade de incluir na pauta da sociedade a compreensão da moralidade como um tesouro do qual não se pode abrir mão. Sua ausência significa a produção de perdas irreparáveis, de vidas, de credibilidade e de conquistas e avanços de todo tipo, pelos inevitáveis comprometimentos advindos de uma cultura permissiva e cega a valores balizadores da vida cidadã. Nesse âmbito, é preciso retomar a tematização da responsabilidade dos meios de comunicação - também sublinha a CNBB. A apurada qualidade técnica e os admiráveis recursos da mídia, em particular da televisão, lamentavelmente, estão a serviço de programas que atentam contra a dignidade humana. Não se pode simplesmente ajuizar que os cidadãos são livres para escolher o que é de baixo nível moral. É melhor não produzi-los. Então, é preciso combatê-los, investindo na formação da consciência moral, com uma consistência tal que se rejeite, com lealdade, os fascínios da celebridade fugaz, o gosto mórbido pelo dinheiro e pelo poder, e substituí-los pelo apreço ao bem, à verdade; criar o gosto pela transparência e pelo que é honesto.
As culturas e as sociedades não podem prescindir de investimentos, abordagens e compreensões da consciência na sua insubstituível e específica função de discernimento e juízo moral. É urgente superar considerações de que tratar e investir na moralidade é um viés antigo, e até superado. A liberdade e a autonomia que caracterizam a sociedade contemporânea não podem prescindir do exercício dos valores morais sob pena de continuarmos a fabricar o precioso tempo do Terceiro Milênio como um tempo de abominação da desolação.

Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte

VOCE DECIDE A QUEM DARÁ VITÓRIA


Nosso coração é um terreno em que Jesus e o inimigo são os semeadores. Podemos frutificar as sementes que Jesus semeia, ou, infelizmente, frutificar as sementes que o príncipe deste mundo lança sobre nós. É preciso decidir frutificar unicamente as sementes de Jesus senão, veja o que acontece:
“Quando o espírito impuro sai de um homem, ele percorre as regiões áridas em busca de descanso, mas não o encontra. Então, diz consigo mesmo: ‘Vou tornar à minha morada de onde saí’. Ao chegar, encontra-a desocupada, varrida e arrumada. Então, vai tomar consigo mais sete espíritos piores do que ele, lá entrar e se instalam. E o último estado deste homem torna-se pior que o primeiro” (Mt 12,43-45a)
Jesus nos mostra, nesta Palavra, que o inimigo não desiste: Ele é o usurpador. Se no passado ele conseguia se instalar em sua vida, se você abriu brecha e ele entrou se instalando em áreas da sua vida, fique atento. Saiba que, embora Jesus o tenha libertado, o inimigo continuará rodeando e buscando uma antiga brecha para entrar de novo e se instalar.
Jesus nos alerta: “Preparem-se para a tentação, porque o inimigo não vai perder vocês! Ele não vai querer perder o terreno que havia usurpado”. Ao mesmo tempo, o Senhor nos garante: “Eu orei pra ti, a fim de que a tua fé não desapareça” (Lc 22,32a). E ao Pai Ele ora: “Eu rogo por eles. Eu não te peço que os tires do mundo, mas que os guardes do Maligno” (Jo17,9a.15). Enfrentaremos tentações, mas não estaremos sós. Jesus está conosco, orando por nós, torcendo por nossa vitória.
Até o final de nossa vida seremos um terreno disputado. Somos nós que daremos a vitória a Jesus ou ao demônio. A quem você quer servir? Quem você deixará entrar em sua vida? No passado, muitas vezes demos vitória ao demônio. Deixamos que ele tomasse nossa mente, nossos sentimentos, nosso corpo. Tornamo-nos tolos nas mãos do inimigo. Mas Jesus é o Senhor deste terreno que somos nós. Só a Ele podemos dar a vitória.
Diante dessa realidade, temos uma promessa de Jesus na carta de São Tiago:
“Feliz o homem que suporta a provação, porque, depois de testado, receberá a coroa da vida, prometida àqueles que O amam” (Tg 1,12).
A palavra “testado” aqui é muito importante. “Todos nós, criaturas humanas, passamos pela provação.” É o teste pelo qual todos precisamos passar. Também os anjos passarão pela prova. Uma multidão de anjos venceram: foram vitoriosos porque obedeceram. Mas houve também uma quantidade enorme de anjos que não passaram na “prova”: foram testados, mas, infelizmente, desobedeceram, se rebelaram, se revoltaram e tornaram-se os anjos do mal: os demônios. O mesmo ocorre conosco: não existe quem não passe pela provação.
Ouvi esta explicação dos lábios de Dom Terra, teólogo e doutor em Sagrada Escritura: “Todas as criaturas precisam passar pela ‘provação’. Os anjos já foram provados. Agora somos nós: é nossa vez. Todos nós, criaturas humanas, estamos passando pela ‘prova’. O resultado do final será: ‘aprovados’ ou ‘reprovados’. Assim foi com os anjos; assim será conosco”.
Confesso que essa explicação mexeu comigo. Fui tomado de um temor. Não tive dúvida: ouvi tudo dos lábios de um bispo, de um teólogo e doutor em Sagrada Escritura. É como se Deus mesmo me dissesse: Jonas, preste atenção! Isso é real, é verdade, é de fé: os anjos já fora provados. Agora é você. Ou você passa pela “prova” e é “aprovado” ou ...
Repito: isso encheu-me de um santo temor. Estou na prova. Estamos na provação.
A salvação é gratuita, mas o Senhor nos faz passar pela prova. Para conseguir em emprego, você passa por um teste; para entrar numa faculdade, você faz um vestibular. Todos nós passamos pela provação. Por isso o Senhor não retira a tentação. O demônio acaba fazendo um serviço a Deus. Ele, que já foi reprovado, é usado hoje para nos provar. Eis a razão da tentação.
Para os anjos, foi uma situação arriscada; dali dependia o destino deles. Igualmente, todos nós passamos por uma situação arriscada: o risco de se salvar ou se perder; o risco de dar a vitória a Jesus ou ao demônio. Podemos ser aprovados ou reprovados.
O demônio está aí para nos testar. Ele é como o ácido colocado sobre o metal para testar sua autenticidade! O ácido derramado no ouro não o escurece; se escurecer, não é ouro. Estamos passando pelo teste.
Quando o demônio é expulso de uma casa (a casa de nosso coração), ele não desiste; fica esperando uma brecha com sete piores do que ele. Se não der brecha, ele não tem como entrar. Mas, se entra, o estado dessa pessoa torna-se pior do que antes. Porém o Senhor nos garante que não estamos sós: Ele está conosco, orando e intercedendo por nós, para não cairmos novamente em tentação.Trecho retirado do livro "Combatentes na provação" de monsenhor Jonas Abib

NÃO SE CONTENTE EM VIVER O MAIS OU MENOS

É preciso muito pouco para sermos felizes. Mas, nesse pouco, precisa haver fidelidade. Muitas vezes, falamos: “Eu não quero ir para a Igreja porque existem muitas pessoas falsas lá”. Existem pessoas falsas em todos os lugares! Na sua casa, no seu trabalho...
Não se escandalize com os erros das pessoas, nem as cobre por isso. Elas erram, você erra, é comum isso acontecer para aprendermos. Na nossa fé, o maior não é o que tem o título mais poderoso. Qual caminho você quer? Da fama? Da glória? Do reconhecimento das pessoas? Ou você quer ser feliz na simplicidade?
A pessoa que hoje sofre por amor ao Nosso Senhor será por Ele exaltada. Não há progresso na vida espiritual sem esforço. A pessoa que não sai de si, não cresce. Deus não pode ajudar quem não quer ser ajudado.
Nossa vida não muda se fizermos todos os dias as mesmas coisas, da mesma maneira. Não seja preguiçoso, confie na graça de Deus e seja feliz! A graça, sem esforço, não encontra onde agir. O esforço, sem a graça, também não surte efeito.
Não podemos passar a vida inteira nos escondendo por medo de fracassar. A vida é única! Tente, lute e, se precisar, fracasse. A pessoa que não tenta não fracassa naquilo que faz, mas naquilo que é. O fracasso nos ensina, nos dá experiência.
Não tenha medo do que os outros vão achar de você. A vida é sua e ninguém pode vivê-la no seu lugar. Vale a pena, sim, ouvir os conselhos das pessoas que nos amam e receber as críticas positivas. Entretanto, precisamos filtrar o que ouvimos porque muita gente tenta nos derrubar.
Quem quiser amar a vida e ser feliz, precisará ser zeloso do bem. O que é ser zeloso? Zelo é unir esforço e talento. Uma pessoa que é talentosa, porque se esforça, é zelosa. Não dá para se contentar em viver a vida no “mais ou menos”.
A gente quer a sabedoria, mas não quer o sofrimento. As duas coisas estão ligadas. Aprendemos a viver vivendo! A pessoa preguiçosa tenta procurar atalhos em tudo. Vá pelo caminho mais longo, pague o preço, mas faça o certo. Aquele que se humilhar e se esforçar será exaltado, lembre-se sempre disso. Amém!

Márcio Mendes
Missionário da Comunidade Canção Nova

PROVIDÊNCIA OU PROVIDÊNCIA ?

'Feliz quem teme o Senhor e segue seus caminhos'
"Por que ficar tão preocupados com a roupa? Olhai como crescem os lírios do campo. Não trabalham, nem fiam. No entanto, eu vos digo, nem Salomão, em toda a sua glória, jamais se vestiu como um só dentre eles. Ora, se Deus veste assim a erva do campo, que hoje está aí e amanhã é lançada ao forno, não fará ele muito mais por vós, gente fraca de fé? Portanto, não vivais preocupados, dizendo: ‘Que vamos comer? Que vamos beber? Como nos vamos vestir?’ Os pagãos é que vivem procurando todas essas coisas. Vosso Pai que está nos céus sabe que precisais de tudo isso" (Mt 6, 28-32).
Das pessoas sábias e maduras se diz serem capazes de prever e prover o necessário à própria vida e de sua família. Seu equilíbrio na administração dos bens lhes possibilita olhar com serenidade o futuro e manter a necessária serenidade. São ideais que atraem a todos e podem ser chamados de sonhos de estabilidade, aqui entendida num sentido amplo, abarcando todas as áreas de atividade das pessoas. Entretanto, sabemos que esse sonho está bem distante de uma grande massa da população, com tantas pessoas esforçando-se para mal e mal sobreviverem, muitas delas vivendo de sobras que as humilham e degradam. Os dois extremos não nos permitem acomodamentos, pois fomos feitos para a dignidade da vida em todos os aspectos e, ao mesmo tempo, é dever de consciência olhar ao redor e empreender todos os esforços para a elevação do nível social e econômico de todos.
E aqui entra a desafiadora pergunta sobre a ação dos cristãos e as possibilidades de anúncio do Evangelho a todos. É necessário aguardar que se eleve o nível sócio-econômico das pessoas, por estarem muito mais preocupadas com a busca do necessário pão de cada dia, para depois falar-lhes de Deus? Não é o caso de estimular nelas a busca do desenvolvimento pessoal, até porque sabemos que Deus também quer que elas cresçam? Sabemos como é traiçoeiro e falso esse raciocínio! O Evangelho é bom e é totalmente necessário que seja anunciado a todos os homens e mulheres de todos os tempos. Seria defraudar um direito fundamental recusar-se a dar a Boa Nova a quem quer que seja! E a Igreja o sabe e quer chegar até os confins da terra, levando a Palavra e o nome de seu Senhor.
Os cristãos querem praticar e propor duas atitudes. De uma parte, como base e fundamento, buscar o Reino de Deus e sua justiça, sabendo que todas as outras coisas são dadas por acréscimo (cf. Mt 6,33). É a certeza que já inspirava o salmista: "Se o Senhor não construir a casa, é inútil o cansaço dos pedreiros. Se não é o Senhor que guarda a cidade, em vão vigia a sentinela. E inútil madrugar, deitar tarde, comendo um pão ganho com suor; a quem o ama ele o concede enquanto dorme" (Sl 126, 1-2). É uma liberdade a ser cultivada no coração e nas atitudes. Ela suscita gestos de generosidade e partilha especialmente naqueles que parecem ter pouco ou menos! Não é raro assistir espetáculos de generosidade entre os mais pobres. Expressão reveladora de tais sentimentos é a tão conhecida “onde uma pessoa pode comer, duas também podem”.
O outro lado da moeda tem o nome de responsabilidade. Confiança em Deus pede fidelidade no cumprimento de todas as suas palavras. "Feliz quem teme o Senhor e segue seus caminhos. Viverás do trabalho de tuas mãos, viverás feliz e satisfeito. Tua esposa será como uma vinha fecunda no interior de tua casa; teus filhos, como brotos de oliveira ao redor de tua mesa. Assim será abençoado o homem que teme o Senhor" (Sl 127, 1-4). Também aqui os exemplos florescem em todas as partes. Quantos são os casais que chegam à plenitude dos anos testemunhando fidelidade, trabalho e esforço, vendo os filhos brotarem como ramos de oliveira! Quantas famílias maravilhosas eu tenho conhecido e visitado, nas quais a confiança absoluta na Providência de Deus estimulou também uma invejável dedicação, seja às próprias atividades laborativas, seja ao compromisso com a sociedade e com a Igreja.
Estas pessoas sabem que o Senhor Deus criou os seres humanos para serem vivos, bonitos e bem tratados. Confiantes em Deus, elas não se preocupam, mas se ocupam, sim, com toda dignidade, de suas tarefas diárias e adquirem o necessário equilíbrio. O cristão não tem direito de ser menos competente em seu campo de trabalho do qualquer outra pessoa. Sua inteligência e seus dotes pessoais foram dados para serem postos a serviço dos outros. Daí a recomendação do Apóstolo São Paulo: "Quando estávamos entre vós, demos esta regra: “Quem não quer trabalhar também não coma”. Ora, temos ouvido falar que, entre vós, há alguns vivendo desordenadamente, sem fazer nada, mas intrometendo-se em tudo. A essas pessoas ordenamos e exortamos no Senhor Jesus Cristo que trabalhem tranqüilamente e, assim, comam o seu próprio pão. E vós mesmos, irmãos, não vos canseis de fazer o bem" (II Ts 3m 10-13).

Dom Alberto Taveira Corrêa
Arcebispo de Belém - PA