sábado, 25 de outubro de 2014


FREI GALVÃO UM SANTO BRASILEIRO

O Brasil até hoje não tinha um santo aqui nascido
Quando o frei Antonio de Sant’anna Galvão morreu, em 1822, toda a Capitania de São Paulo, onde ele viveu sessenta dos seus 83 anos de vida, o velou no Mosteiro da Luz; eram mais de 3.000 pessoas, num tempo em que a população da cidade não passava de 25.000 habitantes. Os fiéis recortaram-lhe pedaços da batina e retiraram pequenas pedras de seu túmulo para mergulhá-las na água que dariam aos doentes na esperança de que fossem curados.
Durante sua vida diversos milagres foram atribuídos ao Santo, que, com sua única batina, costumava percorrer a pé os vilarejos do interior de São Paulo, pregando para os pobres. Por onde ele passava, multidões acorriam. O papa Bento XVI no Campo de Marte, em São Paulo, canonizou o frade franciscano, que se tornou o primeiro santo genuinamente brasileiro.
O Brasil até hoje não tinha um santo aqui nascido. Madre Paulina, canonizada em 2002, embora tenha vivido a maior parte de sua vida nos estados brasileiros de Santa Catarina e São Paulo, nasceu na Itália. Frei Galvão nunca saiu do Brasil. Criado em uma família rica e poderosa – o pai foi capitão-mor de Guaratinguetá, no interior de São Paulo –, ele deixou a casa paterna aos 13 anos para estudar com os jesuítas na Bahia. Aos 21, ingressou na Ordem dos Franciscanos, no Rio de Janeiro. Ordenado sacerdote, veio para São Paulo.
Um dos milagres para a sua canonização foi o da paulista Sandra Grossi de Almeida, hoje com cerca de 40 anos. Havia muito tempo, Sandra sonhava em ser mãe, mas, por causa de uma má-formação do útero, já havia sofrido dois abortos espontâneos, um deles de gêmeos. Quando, em 1999, engravidou pela terceira vez, os médicos a avisaram de que o feto provavelmente não passaria do quinto mês. Desde o início da gestação, Sandra começou a ter sangramentos. Diante da perspectiva de mais uma perda, desesperou-se – até que uma amiga levou a ela três minúsculos pedacinhos de papel enrolados em forma de cânula. Eram as pílulas de frei Galvão. Hoje reputadas como milagrosas, elas surgiram entre 1785 e 1788.
O sangramento de Sandra cessou no dia seguinte à ingestão das pílulas – e Enzo, hoje com 10 anos, é um menino saudável. Depois de analisar uma bateria de exames de Sandra, a comissão médica da Congregação para as Causas dos Santos, composta de cinco profissionais, concluiu que um útero com as características do dela (chamado bicorne, por se dividir em duas cavidades, ambas muito pequenas) não ofereceria espaço suficiente para que um feto crescesse. Por unanimidade, atestou que a ciência não tinha explicação para o fato de Sandra ter concluído a gestação. Em 1998, o Vaticano já havia confirmado um primeiro milagre do frei: a cura da menina Daniela Cristina da Silva, que, em 1990, fora desenganada pelos médicos por causa de uma hepatite aguda.
Por volta de 1788, o frade franciscano foi procurado por dois homens que lhe pediram que intercedesse pela saúde de seus familiares: o marido de uma gestante com problemas no parto e o pai de um menino que sofria de uma doença renal. Como não podia ir até os doentes, o franciscano resolveu escrever uma oração em um pedaço de papel, que cortou em três pequenos pedaços e ofereceu aos homens, recomendando que fizessem os doentes tomá-los como remédio.
Tanto a gestante como o rapaz ficaram curados, de acordo com relatos do período. Desde então, a fama das pílulas se espalhou pelo Brasil. Até hoje, no Mosteiro da Luz, treze freiras trabalham na sua confecção: enrolam uma tira de papel de arroz em que está impressa dezessete vezes a oração escrita pelo religioso – uma prece em latim dirigida à Virgem Maria – e depois a cortam em catorze pedaços para deixar as pílulas em formato de microcânulas. Todos os dias, pela manhã, formam-se, diante do mosteiro, enormes filas de pessoas em busca do remédio supostamente milagroso. Diariamente, as irmãs produzem e distribuem mais de 5 000 pílulas aos fiéis

COMO AJUDAR UM DEPENDENTE QUÍMICO

No primeiro estágio da dependência química, a pessoa não considera ruim o uso que faz dos entorpecentes. Então, como ajudá-la?
A vida acontece num processo contínuo; é movimento, é mudança. E as pessoas, para mudar, precisam se sentir prontas e decididas pela transformação. O modelo dos estágios de mudança (a pré-contemplação, a contemplação, a preparação, a ação, a manutenção e a recaída) é uma das muitas formas usadas no tratamento da saúde mental para dispor ou preparar alguém para a transformação.
De modo geral, há cinco princípios norteadores para a abordagem motivacional:
1. Expressar empatia – Por meio de uma escuta reflexiva, você acolhe e compreende o ponto de vista do outro sem necessariamente concordar com ele. Frases como “entendo o que você diz” ou “partindo do seu ponto de vista” são valiosos instrumentos a serem usados nesse princípio.
2. Desenvolver a discrepância – Mostre a diferença entre seu comportamento, suas metas e o que ele pensa que deveria fazer para alcançá-las. Em meu consultório, costumo usar a figura do “caminho”, ilustrando onde ele está agora, aonde quer chegar, qual o melhor trajeto a percorrer para atingir o ponto de chegada.
3. Evitar a confrontação – A pessoa deve ser sempre “convidada a pensar sobre o assunto”. Faça uso de perguntas como: O que você pensa sobre isso? Podemos pensar juntos em um plano de mudanças de hábito?
4. Lidar com a resistência – Aquele que precisa de nossa ajuda pode resistir às sugestões ou propostas que você fizer. Seja compreensivo e aguarde vir dele a decisão de quando e como mudar. Forneça informações que o ajude a considerar novas e diferentes alternativas. Exemplificando, ao abordar alguém que faz uso abusivo ou nocivo de álcool, esclareço sobre os danos do consumo de alto risco, as doses de bebidas consideradas seguras pelos especialistas e a diferença no teor de álcool que cada bebida contém. Aguardo que ele me interrogue: O que fazer e como parar?
5. Fortalecer a autoeficácia – Este princípio está relacionado à motivação da fé que a pessoa tem em si mesma, em sua capacidade de mudança. Encorajar e estimular cada passo são atos importantes para que ela se sinta fortalecida e permaneça firme no decorrer do caminho.
Após nos aprofundarmos nesses princípios, vamos refletir sobre o primeiro estágio, que é a pré-contemplação. Nele, a pessoa não considera ruim o uso que faz da substância. É aquele usuário feliz que não vê seu comportamento como um risco para a sua saúde, de seus familiares e da sociedade. O que fazer nesse estágio? A informação aqui ainda é o melhor instrumento a ser utilizado. Conscientizemos e esclareçamos sem nos impor. Deixemos o primeiro passo partir dele. Depois, façamos recomendações ou sugiramos estratégias para reduzir ou cessar o consumo. Esse será o ponto de partida da próxima etapa: a contemplação. Por enquanto, resta-nos observar o discreto movimento do rolar da pedra.

Érika Vilela

COMO CELEBRAR A PALAVRA QUANDO NÃO HÁ SACERDITE OU DIÁCONO ?

Orientações para a celebração da Palavra de Deus
A Eucaristia é, por excelência, a celebração do Dia do Senhor. O Catecismo da Igreja Católica prescreve: “O mandamento da Igreja determina e especifica a lei do Senhor: ‘Aos domingos e nos outros dias de festa de preceito, os fiéis têm a obrigação de participar da Missa’. Satisfaz o preceito de participar dela quem a assiste segundo o rito católico no próprio dia da festa ou à tarde do dia anterior” (CIC 2180)
A Celebração da Palavra não deve ser confundida com a Missa. O documento 43 – “Animação da vida litúrgica no Brasil”–, da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), assim nos orienta: “Contudo, não confundimos nunca estas celebrações com a Eucaristia. Missa é Missa.Celebração da Palavra, mesmo com a distribuição da comunhão, não deve levar o povo a pensar que se trata do Sacrifício da Missa. É errado, por exemplo, apresentar as oferendas, rezar o Cordeiro de Deus e dar a bênção própria dos ministros ordenados”.
O ideal seria que todas as comunidades pudessem participar da Missa, contudo a realidade que vivemos no Brasil não é essa. Segundo o documento 43 da CNBB, cerca de 70% das comunidades no Brasil não têm acesso à Celebração Eucarística presidida por um ministro ordenado. Muitas delas se encontram em regiões distantes que não permitem aos fiéis ir a uma igreja. O que fazer em tais casos? Qual a orientação da Igreja?
Vejamos o que diz a Constituição Conciliar Sacrosanctum Concilium sobre a Sagrada Liturgia: “Promova-se a celebração da Palavra de Deus nas vigílias das festas mais solenes, em alguns dias feriais do Advento e da Quaresma e nos domingos e dias de festa, especialmente onde não houver sacerdote; neste caso, será um diácono ou outra pessoa delegada pelo bispo a dirigir a celebração” (SC, 35.4).
A Congregação para o Culto Divino, no “Diretório para celebrações dominicais na ausência do presbítero”, no parágrafo 20, assim prescreve: “Entre as muitas formas celebrativas que se encontram na tradição litúrgica, é muito recomendada a Celebração da Palavra de Deus”.
O mesmo diretório diz: “Quando em alguns lugares não for possível celebrar a Missa aos domingos, veja-se primeiro se os fiéis não podem deslocar-se à igreja de um lugar mais próximo e participar aí da celebração do mistério eucarístico.
Quando a celebração da Missa dominical não é possível, é muito recomendada a celebração da Palavra de Deus, seguida da comunhão eucarística. Mas é necessário que os fiéis percebam com clareza que tais celebrações têm simplesmente carácter supletivo, e não venham a considerá-las como a melhor solução para as atuais dificuldades ou concessão feita à comodidade. Por isso, as celebrações dominicais, na ausência do presbítero, nunca podem realizar-se aos domingos naqueles lugares onde a Missa já foi ou vier a ser celebrada nesse dia ou tiver sido celebrada na tarde do dia anterior, mesmo noutra língua”. Recomendo a leitura atenta do “Diretório para celebrações dominicais na ausência do Presbítero”, publicado pela Congregação para o Culto Divino.
A celebração dominical na ausência do presbítero é orientada por um diácono que a preside ou, na sua falta, por um leigo designado pelo pároco.
A CNBB publicou um documento (número 52) sobre “Orientações para a celebração da Palavra de Deus”. Neste documento, encontramos alguns dados importantes:
1. Para a Celebração da Palavra de Deus não existe um ritual próprio. Muitas comunidades seguem o esquema da Celebração Eucarística, omitindo algumas partes ou usando um subsídio específico.
2. Na Celebração da Palavra, sejam valorizados os seguintes elementos: 1) Reunião em nome do Senhor; 2) Proclamação e atualização da Palavra; 3) Ação de Graças; e 4) Envio em Missão.
O documento ainda oferece um roteiro:
1. Ritos iniciais: Saudação, acolhida, introdução no espírito da celebração, rito penitencial. Quem preside conclui os ritos iniciais com uma oração.
2. Leitura, Salmo e Evangelho.
3. Partilha da Palavra de Deus.
4. Profissão de Fé.
5. Oração dos Fiéis.
6. Momento de Louvor: Não deve ter, de modo algum, a forma de Celebração Eucarística.
7. Oração do Senhor – Pai Nosso.
8. Abraço da Paz.
9. Comunhão Eucarística: Nas comunidades onde se distribui a Comunhão durante a Celebração da Palavra, o Pão Eucarístico pode ser colocado sobre o altar antes do momento da ação de graças e do louvor, como sinal da vinda do Cristo, Pão Vivo que desceu do céu.
10. Ritos finais.

Padre Flávio Sobreiro