domingo, 16 de março de 2014

META QUARESMA

A meta da Quaresma é a expiação dos pecados; pois eles são a lepra da alma. Não existe nada pior do que o pecado para o homem, a Igreja e o mundo.

Todos os exercícios de piedade e de mortificação têm com objetivo de livrar-nos do pecado. O jejum fortalece o espírito e a vontade para que as paixões desordenadas, especialmente aquelas que se referem ao corpo (gula, luxúria, preguiça), não dominem anossa vida e a nossa conduta. A esmola socorre o pobre necessitado e produz em nós o desapego e o despojamento dos bens terrenos; isto nos ajuda a vencer a ganância e o apego ao dinheiro. A oração fortalece a alma no combate contra o pecado. Jesus recomendou na noite de sua agonia: “Vigiai e orai, o espírito é forte mas a carne é fraca”. A Palavra de Deus nos ensina: “É boa a oração acompanhada do jejum e dar esmola vale mais do que juntar tesouros de ouro, porque a esmola livra da morte, e é a que apaga os pecados, e faz encontrar a misericórdia e a vida eterna” (Tb 12, 8-9).

“A água apaga o fogo ardente, e a esmola resiste aos pecados”(Eclo 3,33). “Encerra a esmola no seio do pobre, e ela rogará por ti para te livrar de todo o mal” ( Eclo 29,15).

Jesus ensinou: “É necessário orar sempre sem jamais deixar de fazê-lo” (Lc 18,1b); “Vigiai e orai para que não entreis em tentação” (Mt 26,41a); “Pedi a se vos dará” (Mt 7,7) . E São Paulo recomendou: “Orai sem cessar” (I Ts 5,17).

Quaresma é pois tempo de rompimento total com o pecado. Alguns pensam que não têm pecado, se julgam irrepreensíveis, como aquele fariseu da parábola que desprezava o pobre publicano (Lc 18,10 ss); mas na verdade, muitas vezes não percebem os próprios pecados por causa de uma consciência mal formada que acaba encobrindo-os. Para não cairmos neste erro temos de comparar a nossa vida com aqueles que foram os modelos de santidade: Cristo e os Santos.

A TRANSFIGURAÇÃO DE JESUS

Este é o meu Filho amado. Escutai-o!”.
A Visão da transfiguração de Jesus por seus discípulos mais próximos foi uma revelação impar da glória de Deus. Pedro, extasiado, queria fazer tendas para ficar ali para sempre de tão bom que era. E nem se escandalizou com a presença de Moisés e Elias conversando com Jesus, eles que já estavam mortos há séculos! Na verdade, Jesus dá uma pista de como é no céu… Os Justos vivem em Deus, como Moisés e Elias e muitos outros falecidos estão vivos hoje no céu com Deus. Suas almas já estão no céu e por isso quando Jesus se transfigura, é possível vê-los, pois são santos e estão vivos no céu. As duas figuras mais importantes para o povo Judeu no Antigo testamento aparecem ao lado do Glorioso Jesus, radiante de luz, e como se não bastasse, a voz que vem da nuvem deixa claro de que se trata de Deus mesmo: “Este é o meu Filho amado. Escutai-o!”.
Para quem, naqueles dias havia vivido situações diversas e reveladoras, esta voz e visão era o alento necessário. Jesus que havia perguntado quem ele era para os discípulos, que havia dito que seria morto e que ressuscitaria e, repreendido Pedro por agir influenciado por Satanás agora, revelava-se como nunca antes aos seus três melhores amigos. Se seus corações forem atentos, ao ouvir a voz do Pai eles serão capazes de guardar a palavra de Jesus e terão força no dia da tribulação.

SOFRIMENTO, PRESENTE DE DEUS ?


tentativas_de_escapar_do_sofrimento_1__2013-11-01140723A pessoa humana foi criada para a felicidade. Ninguém gosta de tristeza,  sofrimento ou dor. Porém, tais movimentos nos levam a pensar sobre nossa atitude diante do sofrimento e da dor. É possível tomar consciência de que o sofrimento está presente no mundo em múltiplas formas e manifestações e, que não podemos fugir dele de forma alguma. Sendo assim, resta-nos três caminhos: a revolta, a indiferença ou a aceitação. A revolta leva a pessoa ao desespero; a indiferença nos torna estáticos, deterministas, estóicos; a aceitação comunica-nos a paz e alegria profundas próprias do cristãos: seguidores e imitadores de Jesus Cristo.
O Sofrimento na Biblia
O homem bíblico, desde o Gênesis ao Apocalipse, pergunta-se por que o sofrimento e como libertar-se dele. Antes da vinda de Jesus o sofrimento aparece como uma estrada sem saída, fruto do pecado e como castigo de Deus pelo bem não realizado. O grito que perpassa toda a Sagrada Escritura é o pedido a Deus que nos liberte da dor e que nos dê a força necessária para suportá-la. Os salmos são o livro do homem sofredor que, na sua breve existência, depara-se com todo tipo de dor: física, moral, espiritual, a solidão, o abandono dos amigos, a lepra que devasta, a perseguição dos inimigos…O livro de Jó, que podemos considerar como o grande tratado antropológico da dor, faz-nos ainda mais críticos diante do sofrimento.O sentido de impotência que nos advém quando nos deparamos com a dor deixa-nos ainda mais angustiados. O que fazer diante das pessoas que sofrem, e como reagir diante do nosso próprio sofrimento? Se Deus-amor não quer que o homem sofra, por que permite o sofrimento? São perguntas que, provavelmente, nunca terão uma resposta que nos deixe totalmente satisfeitos.
A repugnância à dor está inscrita no nosso coração e todos somos chamados a lutar contra ela. Superar a dor é caminho promissor para se chegar à felicidade plena.
Jesus nos ensina a Amar a Cruz
O encontro com Jesus de Nazaré, o amor que tenho para com Ele, a leitura do Evangelho e o desejo de imitar sua vida têm-me feito compreender melhor o caminho da dor. Aliás, fora de Jesus, não creio que encontremos resposta para coisa alguma. A vida tende para Jesus e por Ele somos atraídos e seduzidos. Contemplando-o nos vários momentos de sua existência terrena sabemos descobrir o caminho novo. A novidade trazida por Jesus é que Ele encerra o tempo das promessas e abre o tempo da realidade. Ele nos ensina como viver, amar, sofrer, morrer e ressuscitar.
A grandeza de Jesus é que Ele, encarnando-se, assumiu a nossa natureza humana plena, total, com todas as limitações, menos o pecado. De fato, o pecado não faz parte da natureza humana, ele entrou no mundo pela desobediência. Alguém como Jesus, que nunca desobedeceu ao projeto do Pai, não poderia ter o pecado na sua humanidade. Ele “se fez pecado” por nós e nos redimiu de todos os nossos pecados.
O projeto trazido por Jesus é libertar o homem do pecado, e para que isso possa acontecer Ele iniciou a sua história entre nós através do caminho da cruz e do sofrimento.
“Jesus tinha a condição divina, e não considerou o ser igual a Deus como algo a que se apegar ciosamente. Mas esvaziou-se a si mesmo, e assumiu a condição de servo, tomando a semelhança humana. E, achado em figura de homem, humilhou-se e foi obediente até a morte, e morte de cruz! Por isso Deus o sobre exaltou grandemente e o agraciou com o Nome que é sobre todo o nome, para que, ao nome de Jesus, se dobre todo o joelho dos seres celestes, dos terrestres e dos que vivem sob a terra, e, para glória de Deus, o Pai, toda língua confesse: Jesus é o Senhor.” (Fil 2,6-12).
O nascimento, a fuga ao Egito, o trabalho em Nazaré, as incompreensões por parte do povo, dos seus seguidores e do poder constituído em Israel, formam a história de dor de Jesus, que tem o cume na morte de cruz. O caminho apresentado por Jesus aos seus seguidores é: renúncia de si mesmo, carregar a cruz e seguí-lo no seu nomadismo, onde não tem nem uma pedra para reclinar a cabeça… O amor à paixão de Jesus não é opcional na vida cristã, mas necessário para poder compreender o sentido da vida de Jesus.
Através da leitura do Evangelho, compreendemos que Jesus não queria sofrer e que em momento algum provocou o sofrimento, seu ou dos outros, e que fez o possível para aliviar a dor dos outros. Ele mesmo “gemeu e suplicou” ao Pai que o libertasse da cruz, do beber o cálice e da morte. Mas, consciente que era possível salvar a humanidade por este caminho, Ele assume a dor com a alegria interior de quem realiza na fidelidade a vontade do Pai.
Tenho encontrado muitas pessoas esmagadas pela dor e interiormente felizes. Uma das frases que ajudam-me a compreender o sentido da dor é de Santa Teresinha: “Cheguei a um ponto em que o sofrimento me dá alegria”. A alegria de participar ativamente da paixão de Jesus. É o amor que leva a dar toda a vida pelo outro. É o amor do Pai que envia seu Filho Jesus. É o amor do Espírito Santo que consagra Jesus na sua missão e o amor de Jesus que dá toda a sua vida para nossa libertação e salvação. A força do amor é sempre maior do que qualquer sofrimento e, no amor, o sofrimento se faz alegria e vida.
O amor por Jesus gera os mártires da Igreja em todos os tempos e em todos os lugares do mundo. O sofrimento é possível entender na dimensão do amor: “Não há maior amor do que dar a vida por aquele que se ama”. O servo sofredor de Javé, o Cordeiro manso levado ao matadouro apresentado por Isaías se faz realidade na pessoa do Verbo encarnado que, por amor, não volta atrás, mas oferece o seu rosto para que lhe arranquem a barba. Quando o peso das minhas “cruzinhas” se faz pesado aos meus frágeis ombros, o que mais gosto é de contemplar o crucifixo e saber que Ele, o Cristo, por amor morreu por mim. É nesse momento que a dor se faz leve e fonte de uma alegria imensa e incompreensível.
“O sofrimento não me é desconhecido. Nele encontro a minha alegria, porque na cruz se encontra Jesus e Ele é amor. E que importa sofrer quando se ama?” Santa Teresa de los Andes.
À luz de Jesus se entende a dor como fruto de amor e presente de Deus. Todos os santos, os grandes místicos nascidos do encontro com Jesus, pedem a dor como participação do sofrimento. A purificação é consequência do amor. Deus nos purifica porque nos ama, e existe em nós o desejo de nos purificar para “vermos desde já a Deus”. O concílio Vaticano II, na constituição Gaudium et Spes, coloca em destaque como não é possível resolver os problemas existenciais, como o sofrimento, sem Jesus.
“Na verdade, os desequilíbrios que atormentam o mundo moderno se vinculam com aquele desequilíbrio mais fundamental radicado no coração do homem. Com efeito, no próprio homem muitos elementos lutam entre si. Enquanto, de uma parte, porque criatura, experimenta-se limitado de muitas maneiras, por outra parte, porém, sente-se ilimitado nos seus desejos e chamado a uma vida superior. Atraído por muitas solicitações, é ao mesmo tempo obrigado a escolher entre elas renunciando a algumas. Pior ainda: enfermo e pecador, não raro faz o que não quer, não fazendo o que desejaria. Em suma, sofre a divisão em si mesmo, da qual se originam tantas e tamanhas discórdias na sociedade. Certamente muitíssimos, cuja vida se impregnou de materialismo prático, afastam-se da percepção clara deste estado dramático, ou, oprimidos pela miséria, são impedidos de considerá-lo. Muitos pensam encontrar tranquilidade nas diversas explicações do mundo que lhes são propostas. Outros porém esperam uma verdadeira e plena libertação da humanidade somente pelo esforço humano. Estão persuadidos de que o futuro reino do homem sobre a terra haverá de satisfazer todos os desejos de seu coração. Não faltam os que, desesperados do sentido da vida, louvam a audácia daqueles que, julgando a existência humana desprovida de qualquer significado peculiar, esforçam-se por lhe atribuir toda significação só do próprio engenho. Contudo, diante da evolução atual do mundo, cada dia são mais numerosos os que formulam perguntas primordialmente fundamentais ou as percebem com nova acuidade. O que é o homem? Qual é o significado da dor, do mal, da morte que, apesar de tanto progresso conseguido, continuam a subsistir? Para que aquelas vitórias adquiridas a tanto custo? O que pode o homem trazer para a sociedade e dela esperar? O que se seguirá depois desta vida terrestre?

O LADO ABERTO , UMA FERIDA QUE TRAZ A CURA E A SALVAÇÃO


“Chegando a Jesus viram que já estava morto. Por isso, não lhe quebraram as pernas, mas um soldado golpeou-lhe o lado com uma lança, e imediatamente saiu sangue e água”. (Cf. João 19,33-34)

Conta-nos uma antiga Tradição, que este soldado que perfurou o lado de Jesus teria sido São Longuinho. Após furar o lado de Cristo, o sangue e água que jorraram caíram primeiro em seus olhos e ele fora curado duplamente pelo sangue de Jesus. A primeira cura que experimentou São Longuinho foi uma cura física, pois ele tinha um dos olhos perfurados pelas inúmeras batalhas e assim que o Preciosíssimo Sangue lhe atingiu foi como o mais precioso colírio que a humanidade poderia ter recebido. A segunda cura foi espiritual, ele não acreditava que Jesus era o filho de Deus, era doente na alma pela falta de fé. Assim que se percebeu curado viu todo o cenário maravilhoso da salvação e exclamou: ”Verdadeiramente este era o Filho de Deus!” (Cf. Mateus 27,54). Você sabia da existência verdadeira deste santo?

Contemplemos essa cena dolorosa, mas ao mesmo tempo fonte de cura e libertação. Um gesto brutal, mas que nos deu a grande fonte dos sacramentos e da vida para nossa Igreja e para nós. Bebamos da fonte da Vida Nova, Sangue e Água direto do coração de Deus, brota a possibilidade de sermos curados de nossas doenças físicas e espirituais. Quantos de nós hoje padecemos de dor e sofrimento em nosso corpo, um câncer, uma AIDS, uma paralisia, a própria cegueira, as doenças do nosso tempo, depressão, a solidão, o medo, o vazio e a síndrome do pânico e etc., mas podemos contemplar o crucificado e nos colocar embaixo deste rio de Água Viva que quer nos curar de toda enfermidade nos lavando em seu Preciosíssimo Sangue.

O Sangue preciosíssimo de Jesus lava-nos de nossa cegueira, da falta de fé, da insensibilidade, das experiências que nos encheram de desamor e de ódio, das falsas doutrinas que predentem nos ensinar o caminho da salvação, das situações e do próprio pecado. No Sangue e Água podemos nascer de novo, para uma vida nova como homens e mulheres que beberam das torrentes da Fonte da Vida o Corpo Glorioso de Jesus, mas ferido de um eterno e infinito amor por você e por mim.

Rezemos: Ó Sangue e Água que chorastes do Coração de Jesus, como fonte de misericórdia para nós, eu confio em vós. Lava os meus olhos e cura minha falta de fé e de esperança, cura minhas feridas do corpo e da alma, alivia as minhas dores, perdoa os meus pecados, liberta-me do mal e da tentação do demônio. Quero com São Longuinho e Nossa Senhora proclamar que o Sangue de Jesus tem poder na minha vida! Amém.

ORAÇÃO E AMIZADE COM DEUS


Neste 2º Domingo da Quaresma, a Igreja propõe para a nossa meditação a passagem da Transfiguração de Jesus. Os discípulos de Jesus são levados "a um lugar à parte, sobre uma alta montanha", a fim de se encontrarem com Deus, por meio da oração.

Santa Teresa de Jesus diz:

"Que não é outra coisa a oração mental senão tratar de amizade, estando muitas vezes tratando a sós com quem sabemos que nos ama" [1].
Então, a oração trata-se de amizade com Deus. E essa amizade brota do relacionamento intratrinitário, da amizade que o Pai tem pelo Filho, expressa nas palavras: "Este é o meu Filho amado, no qual eu pus todo o meu agrado". Para que também nós entremos nessa amizade e nos transfiguremos, por assim dizer, junto com Jesus, devemos atender ao apelo do Pai, que diz: "Escutai-o!". Da oração brota, então, um ato efetivo de amor a Deus: determinamo-nos a transformar a nossa vontade na vontade de Deus, como o próprio Jesus indica em outra passagem: "Vós sois meus amigos, se fazeis o que vos mando" [2].

Mas Jesus também quer que o nosso amor a Deus se desdobre no amor ao próximo: "Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a sua vida por seus amigos" [3]. Jesus leva-nos para o monte, mas não para que fiquemos aí, isolados em tendas, como sugeriu São Pedro; mas, ao contrário, para que, descendo o monte, entreguemos nossa vida por Ele e pelos outros. Então, a oração, que é amizade com Deus, desabrocha, concretamente, na prática quaresmal da caridade.

Ainda sobre a oração, Santa Teresa dá-nos algumas indicações preciosas:

"[O iniciante] pode fazer muito para se determinar a servir bastante a Deus e despertar o amor. A pessoa pode imaginar que está diante de Cristo e acostumar-se a enamorar-se da Sua sagrada Humanidade, tendo-O sempre consigo, falando com Ele, pedindo-lhe auxílio em suas necessidades, queixando-se dos seus sofrimentos, alegrando-se com Ele em seus contentamentos e nunca esquecendo-se Dele por nenhum motivo, e sem procurar orações prontas, preferindo palavras que exprimam seus desejos e necessidades.

É excelente maneira de progredir, e com rapidez. E adianto que quem trabalhar para ter consigo essa preciosa companhia, aproveitando muito dela e adquirindo um verdadeiro amor por esse Senhor a quem tanto devemos, terá grande benefício.

3. Para isso, não façamos caso de não ter devoção sensível— como eu disse —, mas agradeçamos ao Senhor, que nos permite estar desejosos de contentá-Lo, embora as nossas obras sejam fracas. Esse modo de trazer Cristo conosco é útil em todos os estados, sendo um meio seguríssimo para tirar proveito do primeiro e breve chegar ao segundo grau de oração, bem como, nos últimos graus, para ficarmos livres dos perigos que o demônio pode pôr.

Quem quiser passar daqui e levantar o espírito a sentir gostos, que não lhe são dados, perde, a meu ver, tudo." [4]
A oração não consiste em "sentir gostos", mas em determinar-se no amor. Que, nesta Quaresma, lembremo-nos de cultivar a verdadeira oração, "que não é outra coisa (...) senão tratar de amizade (...) com quem sabemos que nos ama".

JEJUM QUE AGRADA A DEUS

“O meu espírito, ó Deus, é um espírito contrito; um coração contrito e humilhado vós não desprezais” (Sl 51, 19).
oracao
Através da Palavra, a Igreja instrui seus filhos acerca do verdadeiro sentido da penitência quaresmal. ”De que serve jejuar, se com isso não vos importais? E mortificar-nos, se nisso não prestais atenção?” (Is 58, 3). Assim o povo de Israel, escrupuloso observante do jejum legal, elevava a Deus sua voz, como se pudesse apresentar direitos por causa de práticas de penitência destituídas de verdadeiro espírito de piedade! E respondia a voz de Deus: “Passais vosso jejum em disputas e em alterações, ferindo com o punho (…) É porventura este o jejum que me agrada?” (Is, 4-5).
Se a penitência não conduz ao esforço interior para eliminar o pecado e praticar a virtude, não pode ser agradável a Deus que deseja ser servido por um coração humilde, puro, sincero. O egoísmo e a tendência em auto- afirmar-se conduzem, frequentemente, o  homem a se colocar no centro do universo, sendo assim, capaz de menosprezar os outros e descuidando, portanto, da lei fundamental que é o amor fraterno.
“Inutilmente se subtrai ao corpo o alimento, se não se afasta do pecado o espírito” (S. Leão Magno, IV Sermão de Quaresma).
Os hebreus, se abstinham de alimento, deitavam-se no saco e na cinza, mas não cessavam de oprimir o próximo que eram severamente repreendidos. Para Deus, estas práticas de penitência eram rejeitadas. Pouco ou nada vale impor-nos privações corporais se, não sabemos renunciar nossos próprios interesses para respeitar e favorecer os do próximo; nem às próprias vistas para secundar as dos outros, se não procuramos suportar pacientemente as injúrias recebidas.
Assinala a Sagrada Escritura que, justamente a caridade torna aceitável a Deus as práticas de penitência. O jejum que agrada ao Senhor “não consiste, porventura, em repartir teu alimento com o faminto, em dar abrigo aos infelizes sem asilo, em vestir os maltrapilhos? Então sim, tua luz irromperia como aurora, e tuas feridas não tardariam a cicatrizar-se” (Is 58, 7-8). Então, a “luz” da boa consciência resplandece diante de Deus e dos homens, e “a ferida” do pecado é curada pelo verdadeiro amor manifestado para com Deus e os irmãos.
Os discípulos de João Batista, admirados em relação aos de Jesus por não observarem como eles o jejum, interrogaram um dia o Mestre a este respeito e Jesus responde: “Podem, porventura, os convidados às núpcias afligirem-se enquanto o Esposo está com eles?” (Mt 9, 15). Para os hebreus era o jejum sinal de dor, de penitência, observado especialmente nas épocas de calamidades, para implorar a misericórdia de Deus, ou para exprimir arrependimento dos pecados. Porém agora, que o Filho de Deus encontra-se na terra celebrando suas núpcias com a humanidade, parece o jejum um contra-senso: aos discípulos de Jesus destina-se a alegria em vez do pranto. O próprio Cristo veio libertá-los do pecado; por isso a salvação deles não consiste tanto em penitências corporais, mas em se abrirem totalmente à Palavra e a graça do Salvador. Todavia, não pretendeu Jesus de modo algum eliminar o jejum, ao contrário, Ele mesmo já havia ensinado com que pureza de intenção deveriam praticá-lo: fugindo de toda espécie de ostentação com o fim de atrair os louvores alheios. “Quando jejuares, perfuma tua cabeça e lava teu rosto; assim não parecerá aos homens que jejuas… e teu Pai, que vê o que se passa em segredo, recompensar-te-á” (Mt 6, 17-18). Depois, aos discípulos do Batista, diz o Senhor: “Dias virão em que lhes será tirado o Esposo; então jejuarão” (Mt 9, 15).
O jejum cristão não é somente sinal de dor pelo afastamento do Senhor, mas de fé e esperança nEle que permanece invisivelmente entre seus amigos na Igreja, nos Sacramentos, na Palavra e um dia voltará de modo visível e glorioso. Sinal é, o jejum cristão, de vigília, mas vigília gozosa “na expectativa da feliz esperança e da aparição gloriosa de nosso grande Deus e Salvador Jesus Cristo” (Tt 2, 13). Santo Agostinho explicita bem esta realidade:
“Ó Senhor, no tempo de jejum, mantende desperta minha mente e reavivai em mim a salutar recordação do que misericordiosamente fizestes para meu bem, jejuando e rezando por mim (…)
Houve, porventura, misericórdia maior que a vossa, Criador do céu? Por ela, do céu descestes a fim de sofrerdes fome e, em vossa Pessoa, a saciedade passar sede, a força experimentar fraqueza; a saúde, enfermidade; a vida, morrer! Que maior misericórdia do que fazer-se criatura o Criador e servo o Senhor?
Ser vendido quem veio para resgatar, humilhado quem exalta, morto quem ressuscita? Entre as esmolas a fazer, ordenais-me dar pão a quem tem fome; e para dar-vos em alimento a mim, faminto, entregastes-vos, antes, às mãos dos carrascos. Mandais-me acolher os peregrinos, e por mim viestes à vossa própria casa e os vossos não vos receberão. Que minha alma vos louve por vos mostrardes assim tão propício a perdoar todas as minhas iniquidades, a curar todos os meus males, a arrancar da corrupção minha vida, a saciar com vossos bens, meu coração. Fazei que, enquanto jejuo, humilhe-se minha alma, vendo como vós, Mestre de humildade, vos humilhastes, fazendo-vos obediente até à morte de cruz.” (Sto. Agostinho, Sermão 207, 1-2)
O jejum, como qualquer outra forma de penitência corporal, tem a finalidade de alcançar desapego mais profundo das satisfações terrenas, para tornar o coração mais livre e capaz de saborear as alegrias de Deus e, portanto, a alegria eterna da Páscoa do Senhor. Caminhemos nesta certeza!

COMO É O CANTO DO OFERTÓRIO ?

O Ofertório consiste em uma procissão facultativa, nas orações que são o Ofertório em si mesmo, e na Oração sobre as Oferendas.

Durante a procissão, se pode cantar a Antífona de Ofertório - que é do Próprio - prevista no Gradual, em gregoriano, ou usar sua letra para uma melodia inspirada no gregoriano, uma polifonia ou um canto popular. Ou, então, escolher um canto popular adequado. É um momento livre para se cantar "o que quiser" - com bom senso, claro.

As orações do Ofertório são ditas pelo padre em voz submissa enquanto se canta, ou em voz alta quando não se canta ou quando cessa o canto. A Oração sobre as Oferendas é parte do Próprio, havendo uma para cada Missa.

POR QUE O PADRE NÃO PODE CASAR SE É A MESMA BÍBLIA E O PASTOR CASA ?

 Nós não podemos… Não é que a gente não pode. [Aplausos] Às vezes, quando a gente fala que o padre não pode casar, a gente restringe muito a resposta. Ela é muito mais ampla. Nós temos três motivos pelos quais nós não nos casamos, que são palavras muito complicadas: o motivo escatológico,eclesiológico e cristológico. (…) Quando eu não me caso, eu estou, num primeiro momento, assumindo o meu casamento com a Igreja – a dimensão eclesiológica; quando não me caso, estou assumindo uma dimensão escatológica, isto é, no futuro, na eternidade, não existe mais essa identificação do marido e mulher; na eternidade, somos todos iguais, então, a vida sacerdotal é uma ousada tentativa de antecipar no tempo aquilo que já é eterno. O terceiro motivo, cristológico: Jesus não se casou, a comunidade cristã segue a partir do testemunho que afirma isso, e, pra mim, no meu caso, eu não me caso – ninguém me obrigou (eu sou padre livremente) – porque, pra exercer a vida que eu exerço, para ter a liberdade que eu preciso ter, eu tenho consciência que a castidade é o melhor caminho que eu preciso seguir.

* Pe. Fábio de Melo