terça-feira, 24 de julho de 2012

LIDANDO COM AS CRISES

Aprenda a arte de bem-viver

“A maior ciência não é descobrir novas galáxias ou novas partículas nucleares, mas a descoberta dos segredos dos corações e a sabedoria de compreendê-los”.

Como seria bom se – ao puxarmos a folha do calendário do dia anterior – fosse para o cesto de lixo todas as nossas maldades,problemas e tristezas vividos. Contudo, nada disso acontecerá se, ao iniciar um novo dia, não nascer também em nosso coração o desejo de traçar novas metas ou corrigir outras, nas quais não obtivemos bons resultados.

Apenas “mentalizar” as mudanças que desejamos, sem agir para que estas aconteçam, de nada resolverá.

Viver mudanças, certamente, exigirá de cada um de nós esforço e dedicação, pois, conhecemos nossas fraquezas, medos, inseguranças e incapacidades. Talvez, deixar as coisas como estão seja a atitude mais fácil, rápida, indolor e cômoda. No entanto, estabelecer vínculos de intimidade com os velhos hábitos – que nos aprisionam e nos fazem infelizes – não será uma atitude muito inteligente.
Muitos de nós arrastam situações que não prometem crescimento. Agindo dessa maneira, vamos colocar nossa vida na direção de mais um período de frustrações. A força de que precisamos – para assumir nossas mudanças – vem de Deus.

Podemos assumir novos posicionamentos apenas quando fazemos a retrospectiva sobre aquilo que temos vivido sob a luz d’Aquele em que todas as coisas têm consistência. Tomando posse dessa verdade – de que Deus fala conosco por meio dos acontecimentos e se manifesta, também, por meio de conselhos e experiência de pessoas que nos amam – precisamos convidá-Lo para fazer parte de nossa vida. Assim, as nossas crises e dúvidas agora passam a ser partilhadas com Ele.

Se quisermos que os nossos planos tenham consistência, que venham a perdurar por muitos anos e nos sintamos realizados neles, precisamos romper a casca, onde pensamos estar protegidos, e convidar o Senhor para participar dos nossos sonhos, orientando-nos e nos auxiliando a executá-los.

Saber "lidar com as crises” é também refletir sobre alguns pontos fundamentais para o bom convívio humano. Entre eles, destacamos a ciência de que um bom relacionamento é “uma via de mão dupla”, na qual um precisa respeitar o outro para que o entendimento aconteça.

Que Deus abençoe a nós todos na aventura do bem-viver.
Dado Moura

TENHA UM CORAÇÃO MISSIONÁRIO

Partilhe seus dons em favor de todos

A missão nasce no coração da Santíssima Trindade, de onde recebemos o chamado para sermos testemunhas do amor no mundo. Em Cristo somos enviados a anunciar a Boa Nova do Reino de Deus entre nossos irmãos e irmãos. O coração da missão está fundamentado no coração missionário de Jesus Cristo. O documento Ad Gentes (Aos Povos) irá nos dizer que: “A Igreja peregrina é, por sua natureza, missionária, visto que tem a sua origem, segundo o desígnio de Deus Pai, na «missão» do Filho e do Espírito Santo” (AG, 2). O coração de Cristo na Igreja, a faz missionária por excelência.

Dentre as inúmeras características de um missionário, algumas são fundamentais para quem deseja fazer de sua vida uma Missão de amor e anuncio da Boa Nova:

Missão é sempre uma ponte de amor entre os seres humanos. Não há missão se não ousamos sair de nós mesmos e partir ao encontro do outro. E este encontro acontece a partir da realidade em que nossos irmãos e irmãs vivem. Deus é quem conduz nossos passos e caminhos. Somos peregrinos acompanhados por Deus em terras de Missão. Muitas vezes, o missionário terá de sair de suas certezas e seguranças, confiando na providência divina. "Deus disse a Abrão: ‘Saia de sua terra, do meio de seus parentes e da casa de seu pai, e vá para a terra que eu lhe mostrarei. Eu farei de você um grande povo, e o abençoarei; tornarei famoso o seu nome, de modo que se torne uma bênção'" (Gn 12,1-2).
Semear o amor: A vida missionária faz do mundo um território sem fronteiras, onde a segurança está apenas em Deus. Conduzidos pelo Espírito Santo, Protagonista da Missão, o missionário sabe que é apenas um semeador. Seu trabalho consiste em apenas lançar as sementes do amor nos corações que encontrar ao longo do caminho. Deus é quem irá cuidar. Certeza? Apenas uma: o Senhor é quem faz crescer as sementes do amor plantadas em cada vida e em cada história: “Eu plantei, Apolo regou, mas era Deus quem fazia crescer. Assim, aquele que planta não é nada, e aquele que rega também não é nada: só Deus é que conta, pois é ele quem faz crescer” (1 Cor 3,6-7). 
Partilhar seus dons em favor de todos: Missionário é aquele que partilha seus dons em favor da humanidade sofredora. Ele sabe que os dons que possui não são seus, mas sim presentes de Deus a serem ofertados a cada irmão e irmã que encontrar pelos caminhos da vida. Em uma sociedade que oferece, muitas vezes, presentes ilusórios, o missionário é chamado a ofertar generosa e pacientemente  os dons nascidos do amor de Deus por cada filho e filha seus e que conduzem cada um ao caminho da amor, da paz e da esperança.

Buscar Deus nos homens: Missão é sempre partir em busca de Deus em cada ser humano. O missionário não busca certezas, mas, nas incertezas e medos do caminho, busca a presença do Senhor, muitas vezes, escondida e silenciosa no coração de cada pessoa. Esta busca não acontece por acaso; uma vez tendo encontrado Deus escondido em cada coração, o missionário tem a tarefa de despertar cada irmão e irmã do sono espiritual no qual muitos se encontram.

Fazer da missão uma oração: A vida espiritual de todo missionário é alimentada pela oração. Quando a vida espiritual missionária deixa de ser oração, a vocação se torna apenas um ativismo que termina no desânimo, abandonando pelo caminho as sementes que trazia guardadas no coração. Na oração, o missionário faz de sua vida uma entrega total de si mesmo aos planos divinos na sua vida e na vida de todos aqueles que lhe são confiados ao seu cuidado e amor.

Missão é sempre um chamado para a evangelização, na qual o amor anunciado seja fonte de vida em plenitude no coração da humanidade, que busca, a cada dia, a Fonte verdadeira da Água Viva.
Padre Flávio Sobreiro

VOCÊ É TEIMOSO OU PERSISTENTE


O teimoso é fechado às opiniões alheias, é rebelde e intransigente, faz tudo contrário ao que lhe é pedido. Por vezes, chega a ser avesso, simplesmente pelo prazer de contrariar. A Palavra de Deus nos apresenta os fariseus e escribas no tempo de Jesus como exemplo de teimosia.
Já o persistente tem a mente aberta às visões diferentes, por isso mesmo tem mais propriedade e sensibilidade para crer em sua intuição. Ele acata ordens, age com humildade e, quando não prevalece sua "certeza", confia que as coisas se resolverão no tempo de Deus, e não segundo sua urgência. A tenacidade que ele manifesta não é sinal de obediência cega e irracional, mas fruto da esperança evangélica, pois, ele acredita que a verdade prevalecerá.
Realmente não é fácil nos dobrarmos a um direcionamento que, a princípio, nos parece absurdo e infundado, como aquelas ordens que recebemos e sabemos que não tratam da verdade, mas sim da vontade, do bel-prazer de quem detém o poder.
A teimosia leva à incoerência e ao descrédito; já a persistência gera constância e solidez nos propósitos que trazemos no coração. Se você tem razão, se o que faz é, 
verdadeiramente, de qualidade, não se preocupe, porque, em algum momento, você será justificado, pois tudo provém de Deus e “Deus é verdade”. (cf. Catecismo da Igreja Católica nº. 214)
São Francisco de Assis é um grande exemplo de persistência. Em atenção à Palavra do Senhor, ele corrigiu os erros de muitos religiosos de sua época, não por força de argumentos ou de acusações, mas por seus atos coerentes, por meio de uma fidelidade inabalavél a Deus e à Igreja. Sua convicção do que deveria ser mudado foi combustível, primeiramente, de seu próprio carisma de vida: “viver a radicalidade da pobreza”. Assim, por meio de seu testemunho, demonstrou que as igrejas deveriam, urgentemente, rever muitos de seus conceitos aplicados naquele tempo.
Entretanto, diante das dificuldades e dos julgamentos, São Francisco podeira ter virado as costas para a Igreja Católica e fundar sua própria, como fizeram tantas pessoas ao longo dos séculos. Porém, preferiu se manter obediente, pois, se assim procedesse, estaria acatando o pedido do Senhor: “Francisco, reconstrua a minha Igreja”.
“A Igreja não precisa de reformadores, mas de santos”,
afirmava o saudoso beato Papa João Paulo II. Desta forma, para vivermos a vontade de Deus devemos ter persistência, "esperança", principalmente nos relacionamentos, no trabalho, na escola... Enfim, em todos os momentos de nossa vida.
Possamos assim, mesmo diante das injustiças ou simplesmente do não reconhecimento dos dons que trazemos, sermos fiéis àquilo que Deus nos pede ou confia a nós.
Acredite que a intuição e o talento que lhe são dados pelo Senhor terão mérito um dia. Mas para isso é preciso ser persistente, mas não teimoso!
São Francisco de Assis, rogai por nós!
Sandro Ap. Arquejada

JESUS UM CARPINTEIRO

Assim Ele era conhecido pelo povo de Nazaré

As cidades ou as regiões adquirem fama pelas suas manifestações religiosas, seu folclore, culinária ou modo de falar. Algumas ficam conhecidas pelo jeito de ser de seu povo, gente expansiva ou reservada, com cartas "guardadas na manga" para serem jogadas em tempo oportuno. Há lugares, como Nazaré, onde viveu Jesus com Maria e José, que ficaram conhecidos como terra de gente brava e até revoltada.
Qualquer provocação servia para um levante, tanto que Jesus, conhecido como Nazareno, suscitava desconfiança em muitas pessoas, também porque as tradições não esperavam que pudesse vir, da Galileia, algum profeta. Pode acontecer também entre nós, pela avalanche de violência aliada à impunidade corrente, que se reforce a falha de sermos, hoje, uma das áreas perigosas do país. Não é difícil perceber como contribuímos para isso, pela facilidade com que classificamos áreas de nossa região metropolitana como “vermelhas” ou perigosas, vendo em cada desconhecido uma ameaça.
A Igreja quer enfrentar, com as armas do Evangelho, todas as situações desafiadoras, vencendo por amor e com amor, penetrando em todos os ambientes e superando preconceitos. Nosso projeto de Evangelização quer alcançar os que estão afastados da Igreja ou se sentem distantes, constituindo novas comunidades de fé nos lugares mais difíceis. Mais do que as eventuais estatísticas, interessa-nos dizer que todos são amados por Deus e candidatos à vida plena e à salvação, não nos sendo lícito arrefecer diante dos obstáculos. Vale a pena abrir os olhos e verificar como o espírito missionário já envolve muitos sacerdotes, diáconos, religiosos e religiosas, pessoas dedicadas a Deus e, mais ainda, uma enorme quantidade de cristãos leigos e leigas. Vamos chegar lá, contagiando muita gente com a unção missionária.
Os bispos da Região Amazônica, reunidos nesta semana em Santarém, renovaram suas disposições missionárias para que a Boa Nova alcance a todos em todos os rincões de nossa Terra. Saíram de lá com renovado entusiasmo a ser comunicado a todo o povo de Deus.
Voltando a Nazaré, ali Jesus ficou conhecido como carpinteiro, pois havia apreendido de São José este ofício tão digno quanto importante (Mc 6,1-6). Parece até que carpinteiro era mais do que o oficial das mesas ou cadeiras, mas um daqueles homens que sabiam fazer de tudo na construção de uma casa. Ainda se encontram pessoas assim por aí, com admirável conhecimento prático, de olhar profundo e prudência, calma no trabalho, poucas palavras e muita ação. Dá para pensar no Pai do Céu, contemplando a beleza e a bondade da criação, como descreve o livro do Gênesis. 
Sendo Jesus Homem verdadeiro e Deus verdadeiro, tudo o que realizava envolvia a totalidade da vida humana, sem excluir qualquer área dos sentimentos e das aspirações das pessoas, tanto que ninguém passava em vão ao Seu lado. Ele que fazia bem todas as coisas e era o Carpinteiro de Nazaré! Aproximar-se d'Ele é descobrir o Seu segredo, pois o Carpinteiro é Profeta, é Messias, é Salvador.
Ter contato com Jesus Cristo é contemplá-Lo na fé, apurando nosso sentido sobrenatural, a fim de que a salvação seja acolhida e nossa vida transformada. N'Ele aprendemos a olhar também em torno a nós para valorizar os pequenos gestos e as pessoas que conosco convivem. Há um grito surdo pela valorização das pessoas, na superação de desconfianças e medos. É urgente dar nome de dignidade às pessoas que transbordam simplicidade e, com ela, a sabedoria. Elas estão aí, bem perto de nós. Muitas constroem frases quase ingênuas, que alguns pensam ser sabedoria de para-choque de caminhão! Outras sabem dar respostas precisas, ou sabem ouvir e prestar atenção como ninguém para tudo guardar num coração bom e puro.
Sabemos que quem segue Jesus, independente de sua condição social, idade ou cultura, passa a fazer parte do Evangelho, da história de Deus. Se o próprio Senhor teve dificuldades com alguns grupos, como os habitantes de Nazaré, onde Ele se tinha criado (cf. Mc 6,1-6), sabemos que Ele inicia uma nova família, destinada a edificar um novo mundo (cf. Mc 3,13-6,13) na superação das distâncias entre as pessoas, formada por quem quer realizar a vontade do Pai (cf. Mc 3,35). Os discípulos de ontem e de hoje têm a missão de estar com Jesus e ser enviados por Ele como companheiros de missão na luta contra o mal. 
Ao tornar-se simples e competente carpinteiro em Nazaré, o Salvador entrou nas estruturas humanas para transformá-las. A liturgia nos faz reconhecer que pela humilhação do Filho amado, o Pai reergueu o mundo decaído (cf. Oração do XIV Domingo Comum). Ele ocupou todos os espaços humanos com Sua presença redentora. Tal constatação de fé nos permite acolher o dom da alegria nesta terra e almejar as alegrias eternas.
Dom Alberto Taveira Corrêa

NÃO BASTA TER SOMENTE A FÉ


 
“ Tudo isto e coisas ainda mais duras haveriam de sofrer os judeus, não só porque crucificaram Cristo, mas porque, depois disto, trataram também de impedir aos apóstolos de pregarem a doutrina de nossa salvação. Isso lhes jogava na cara o bem-aventurado Paulo, que também lhes profetizou estes males, dizendo: “Sobre eles cairá a ira até o fim” (1 Ts 2, 16).

Mas o que tem a ver – dirá alguém – tudo isto conosco? Porque nós não afastamos ninguém da fé e nem impedimos que se pregasse.

E para que vale – dizei-me – a fé, se a vida não é pura? Mas talvez vós ignorais também esta verdade, já que não escutais nenhuma doutrina nossa. Pois eu vos vou enumerar as sentenças de Cristo e observai vós se não se condenou de algum modo a vida e só se estabeleceram castigos acerca da fé e da doutrina. E, de fato, tendo subido ao monte, vendo aquela grande multidão que o rodeava, depois de outras muitas exortações, disse: “Nem todo o que me disser: Senhor, Senhor, entrará no reino dos céus, senão aquele que fizer a vontade do meu Pai” (Mt 7, 21). E também: “Muitos me dirão naquele dia: Não profetizamos em teu nome e em teu nome expulsamos demônios e em teu nome realizamos muitos prodígios? E eu então lhes direi: Afastai-vos de mim, obreiros da iniquidade: Não vos conheço” (Mt 7, 22-23).

E o que ouve suas palavras mas não as põe em prática, disse ser semelhante a um homem tolo que edifica sua casa sobre a areia, fazendo-a presa fácil de rios, chuvas e ventos (cf. Mt 7, 24-27). E em outra ocasião, falando ao povo: “Da maneira como os pescadores, quando puxam a rede, separam os peixes ruins; assim será naquele dia, quando os anjos lançarão na fornalha ardente todos os que houverem cometido pecados.” (Mt 13, 47)

E falando dos homens dissolutos e impuros, dizia: “Irão onde está o verme que não morre e o fogo que não se apaga” (Mc 9, 44). E outra vez: “Um rei”, disse, “celebrou um banquete de bodas para seu filho e tendo visto um homem que estava vestido com roupas sujas, lhe disse: Amigo, como entraste aqui sem estar vestido com a veste nupcial? E o outro emudeceu. Então disse a seus servos: Atai-os de pés e mãos e lançai-o nas trevas exteriores” (Mt 22, 11-13).

Ameaça com que apontava a intemperantes e dissolutos. E as virgens imprudentes foram excluídas da sala nupcial pela sua crueldade e desumanidade. E pela mesma causa irão outros para o fogo eterno, preparado para satanás e seus anjos. (cf. Mt 25, 31ss). E condenados serão também os que falam sem razão nem motivo. “Porque pelas tuas palavras”, disse, “serás justificado e pelas tuas palavras serás condenado” (Mt 12, 37).

Logo parece-te que sem motivo andamos tão temerosos pela nossa vida e colocamos tanto afinco na parte moral da filosofia? Não penso desta maneira, certamente, a não ser que digas que tampouco Cristo teve motivo para dizer tudo isso e muito mais do que isso, pois não iremos transcrever aqui todo o Evangelho. E se não temesse alongar meu discurso, pelos profetas, pelo bem-aventurado Paulo e os outros apóstolos poderia mostrar-te quanto empenho o próprio Deus pôs nesta parte. Mas creio que basta o que disse; ou, melhor, não só basta o que disse, mas a menor coisa que dissemos. Porque quando é Deus que afirma algo, ainda que o dissesse uma só vez, temos que recebê-lo como se mil vezes houvesse repetido.

São João Crisóstomo