quarta-feira, 9 de março de 2011

RETIRO POPULAR DA QUARESMA


 1. O Retiro Popular é uma forma de viver a Quaresma, tendo em vista a Páscoa do Senhor. Cada ano, na Vigília Pascal, somos convidados para renovar nosso Batismo e nossos compromissos de fidelidade a Deus e à Igreja com as velas acesas na luz do Círio Pascal. Tudo converge para a Noite Santa da Páscoa, para o Senhor Jesus, morto e ressuscitado.
2. A segunda semana da Quaresma encontra os fiéis identificados com o Cristo, cuja vitória sobre a tentação acompanhamos e dela participamos. Nós temos esperança! Não é impossível vencer o mal, pois sabemos que ele não tem a última palavra na história do mundo nem em nossa história pessoal.
3. Comece seu Retiro diário pedindo as luzes do Divino Espírito Santo. “O Espírito vem em auxílio à nossa fraqueza, porque não sabemos o que devemos pedir, nem orar como convém”
“Ó Espírito Santo, dai-me um coração grande, aberto à vossa silenciosa e forte palavra inspiradora, fechado a todas as ambições mesquinhas, alheio a qualquer desprezível competição humana, compenetrado do sentido da santa Igreja!
Um coração grande, desejoso de tornar-se semelhante ao Coração do Senhor Jesus!
Um coração grande e forte para amar a todos, para servir a todos, para sofrer por todos!
Um coração grande e forte para superar todas as provações, todo tédio, todo cansaço, toda desilusão, toda ofensa!
Um coração grande e forte, constante até o sacrifício, quando for necessário!
Um coração cuja felicidade é palpitar com o Coração de Cristo e cumprir humilde, fiel e corajosamente a vontade do Pai. Amém”
4. Leitura orante da Palavra de Deus:
Prepare o ambiente exterior e interior, avivando a fé e invocando o Espírito Santo:
a) lê-se, em primeiro lugar, uma passagem da Escritura;
b) segue-se um tempo de meditação, que é um aprofundamento do sentido do que se leu, apelando à inteligência, à memória, à imaginação e ao desejo, eventualmente com a partilha da palavra;
c) à medida que se vai escutando o que Deus diz, o fiel responde com a oração, que pode ser de arrependimento, de ação de graças, de intercessão, de súplica ou de louvor;
d) na medida da graça do Espírito Santo, esta oração desabrocha em momentos de contemplação, que tornam mais viva e íntima a comunhão com Deus, e predispõe a alma para uma vida mais santa e mais ativa na realização do Reino de Deus. Faça esta experiência com o texto da Transfiguração e depois, a cada dia da semana, com os textos da Escritura, que são indicados.
5. Jesus nos conduz ao monte da Transfiguração, acompanhados por Pedro, Tiago e João. Leia e reze com o Evangelho de São Mateus 17,1-9:
“1Jesus tomou consigo Pedro, Tiago e João, seu irmão, e conduziu-os à parte a uma alta montanha. 2Lá se transfigurou na presença deles: seu rosto brilhou como o sol, suas vestes tornaram-se resplandecentes de brancura. 3E eis que apareceram Moisés e Elias conversando com ele. 4Pedro tomou então a palavra e disse-lhe: ‘Senhor, é bom estarmos aqui. Se queres, farei três tendas: uma para ti, uma para Moisés e outra para Elias’. Falava ele ainda, quando veio uma nuvem luminosa e os envolveu. E daquela nuvem fez-se ouvir uma voz que dizia: ‘Eis o meu Filho amado, no qual eu pus todo meu agrado. Escutai-o!’. 6Ouvindo esta voz, os discípulos caíram com a face por terra e tiveram medo. 7Mas Jesus aproximou-se deles e tocou-os, dizendo: ‘Levantai-vos e não temais’. 8Eles levantaram os olhos e não viram mais ninguém, senão unicamente Jesus. 9E, quando desciam, Jesus lhes fez esta proibição: Não conteis a ninguém o que vistes, até que o Filho do Homem ressuscite dos mortos.”
6. Há um outro apóstolo, Paulo, que fez a experiência do Cristo ressuscitado, a mesma que somos convidados a fazer. Deixemos que ele mesmo nos conte, em primeira pessoa:
“Eu poderia confiar também na carne. Se há quem julgue ter motivos humanos para se gloriar, maiores os possuo eu: circuncidado ao oitavo dia, da raça de Israel,da tribo de Benjamim, hebreu e filho de hebreus. Quanto à lei, fariseu; quanto ao zelo, perseguidor da Igreja; quanto à justiça legal, declaradamente irrepreensível. Mas tudo isso, que para mim eram vantagens,considerei perda por Cristo. Na verdade, julgo como perda todas as coisas, em comparação com esse bem supremo: o conhecimento de Jesus Cristo, meu Senhor. Por ele tudo desprezei e tenho em conta de esterco, a fim de ganhar Cristo e estar com ele. Não com minha justiça, legal, declaradamente irrepreensível. Mas tudo isso, que para mim eram vantagens, considerei perda por Cristo. Na verdade, julgo como perda todas as coisas, em comparação com esse bem supremo: o conhecimento de Jesus Cristo, meu Senhor. Por ele tudo desprezei e tenho em conta de esterco, a fim de ganhar Cristo e estar com ele. Não com minha justiça, que vem da lei, mas com a justiça que se obtém pela fé em Cristo, a justiça que vem de Deus pela fé. Anseio pelo conhecimento de Cristo e do poder da sua Ressurreição, pela participação em seus sofrimentos, tornando-me semelhante a ele na morte, com a esperança de conseguir a ressurreição entre os mortos. Não pretendo dizer que já alcancei esta meta e que cheguei à perfeição. Não. Mas eu me empenho em conquistá-la, uma vez que também eu fui conquistado por Jesus Cristo”56. “Em Cristo Jesus fomos feitos novas criaturas. Tudo o que era velho passou, o homem velho morreu, e agora somos completamente novos”57. “É para que sejamos homens livres que Cristo nos libertou”58.
7. Corria o ano de 19 68. Manifestações juvenis em todas as partes, grandes passeatas, revolução nos valores que norteavam a vida da sociedade. Conheci um jovem, cujas escolhas foram amadurecidas no meio das cinzas de todas as destruições. Ouvindo falar de alguém que tinha cometido gestos tresloucados para mostrar seus sonhos mais legítimos de liberdade, aquele moço, que mal entrara na Universidade, partilhava suas reflexões: “se jovens como eu são capazes de atitudes tão radicais, o que eu, que recebi de presente a fé em Cristo, tenho feito por Ele? Como poderia responder à força de sua Ressurreição senão seguindo-o radicalmente? Nele está a revolução que pode mudar as pessoas e o mundo”. E sua vida mudou, pois o encontro com Jesus Cristo deixou marcas profundas em sua existência. No silêncio gritante das multidões, já encontrei muitos outros que fizeram a mesma escolha, repetindo com São Paulo: “Eu vivo, mas já não sou eu; é Cristo que vive em mim. A minha vida presente, na carne, eu a vivo na fé no Filho de Deus, que me amou e se entregou por mim”59.
8. Corre o ano de 2008. Muitos, hoje, inclusive você e eu, podemos receber os nomes de Pedro, Tiago, João ou Paulo e acompanhar Jesus, mesmo carregados de nossas interrogações e, quem sabe, nossas muitas inquietações e dificuldades. Se acompanharmos Jesus, subindo aos montes da vida para rezar, com honestidade pessoal e sinceridade, conheceremos Jesus. Nós não conseguiríamos vê-lo com olhos “normais”. Faz-se necessário receber uma revelação, um dom que vem do Pai que nos apresenta seu Filho60. Ou quem sabe seu encontro com Ele exigiu a violência do caminho de Damasco, ou as crises pessoais que levaram o jovem São Francisco a deixar tudo. Pode ser que sua história seja parecida com a simplicidade de Santa Teresinha, que escolheu a estrada da pequenez. Seja qual for sua aventura pessoal, não é possível passar pela vida sem este encontro pessoal com Cristo. Peça a Deus, com sinceridade, a graça de um encontro novo com o Senhor, como o pai do menino enfermo: “Creio! Vem em socorro à minha falta de fé!”61.
É tempo de uma nova escolha, é tempo de conversão.
9. Não nos encontramos com idéias e doutrinas, mas com uma pessoa. Ensinam os Bispos, em Aparecida, que devemos oferecer a todos os nossos fiéis um encontro pessoal com Jesus Cristo”, uma experiência religiosa profunda e intensa, um anúncio querigmático e o testemunho pessoal dos evangelizadores, que leve a uma conversão pessoal e a uma mudança de vida integral. “A admiração pela pessoa de Jesus, seu chamado e seu olhar de amor despertam uma resposta consciente e livre desde o mais íntimo do coração do discípulo uma adesão de toda sua pessoa ao saber que Cristo o chama por seu nome63. É um ‘sim’ que compromete radicalmente a liberdade do discípulo a se entregar a Jesus, Caminho, Verdade e Vida. É uma resposta de amor a quem o amou primeiro ‘até o extremo’”65. A resposta do discípulo amadurece neste amor de Jesus: “Te seguirei por onde quer que vás”66. O Espírito Santo, com o qual o Pai nos presenteia, identifica-nos com Jesus-Caminho, abrindo-nos a seu mistério de salvação para que sejamos seus filhos e irmãos uns dos outros; identifica-nos com Jesus-Verdade, ensinando-nos a renunciar a nossas mentiras e ambições pessoais, e nos identifica com Jesus-Vida, permitindo-nos abraçar seu plano de amor e nos entregar para que outros “tenham vida nele”67.
10. A segunda semana da Quaresma nos oferece um caminho de aprofundamento do encontro com Cristo e suas conseqüências, com a vida nova que dele decorre. Reze com a Palavra de Deus e se abra para os passos a serem dados.
Dom Alberto Taveira
Arcebispo metropolitano de Palmas (TO)

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