quinta-feira, 27 de junho de 2013

O PODER DAS PALAVRAS

O perdão concedido sem uma carta de acusações
Palavras podem nos devolver a paz ou nos roubar o direito da felicidade. Em cada letra existe a soma que será multiplicada numa equação que produzirá, na alma, o resultado das impressões captadas pelo nosso coração. Nem sempre é fácil fazer da palavra um bálsamo que cure as feridas e as marcas de um tempo de dores e sofrimentos. Muitas delas chegam como tempestades, arrancando a paz da alma. Outras chegam como uma brisa serena refrescando o calor das emoções que esperam o momento crucial para explodir em momentos de raiva.

Jesus fez da palavra uma maneira humana de devolver a vida aos territórios da alma que se encontravam secos e sem esperança. Nas palavras de Cristo está a chance de recomeçar e a alegria das possibilidades escondidas no recomeço que dependia da acolhida de cada ouvinte. No vocabulário da vida, cada pessoa encontrava o direito de trilhar outros contextos de uma história que poderia ser reescrita com as marcas de um novo tempo.
Ao longo do dia, pronunciamos uma infinidade de palavras; algumas nascem de nossas revoltas e contradições, outras já estavam guardadas no baú de nossas maldades, esperando somente o momento de desferirem o golpe fatal que deixaria marcas eternas na alma de alguém. O dicionário da alma pode produzir frutos de amor ou destruir canteiros de sonhos.
Quando o filho pródigo retornou para a casa do pai em busca de acolhimento, encontrou palavras de amor. O pai não lhe pediu explicações, pois ao olhar para o filho já sabia que sua vida tinha se tornado uma tristeza. Não era preciso dizer nada naquele momento, apenas o olhar amoroso já expressava o que era necessário.

Em muitos momentos, perdoamos a quem nos ofendeu. No entanto, precisamos, antes, apresentar uma lista dos erros de quem nos magoou. O perdão é concedido mediante a lembrança de um passado que não deu certo. Antes do perdão surgem as palavras que fazem a ferida da alma sangrar com mais força.

Diante do pecado da mulher flagrada em adultério, Jesus não pediu explicações. Perdoou e incentivou-a a não pecar novamente. O perdão foi concedido sem uma carta de acusações. A palavra de ternura a libertou dos erros passados e ela teve a oportunidade de recomeçar a sua história a partir de novos parágrafos de esperança.

Nossas palavras somente serão um bálsamo quando o vocabulário de nossa alma tiver a ternura da misericórdia do amor de Deus. Quem faz das palavras uma arma para ferir o próximo cria dentro do seu próprio coração um campo de batalhas que, aos poucos, vai exterminando a si mesmo.
Padre Flávio Sobreiro

Nenhum comentário:

Postar um comentário