segunda-feira, 23 de junho de 2014

A INTIMIDADE MISERICORDIOSA DE DEUS



Dou-vos um novo mandamento: Amai-vos uns aos outros. Como eu vos tenho amado, assim também vós deveis amar-vos uns aos outros. Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros” (João 13, 34-35). 

Há muitos anos, quando eu ainda era seminarista, fiz a minha primeira pregação num Acampamento do Sagrado Coração, no antigo Rincão do Meu Senhor. Hoje não pertenço mais parte à Congregação do Sagrado Coração de Jesus, mas sou herdeiro de tudo o que vivi nestes bons anos. 

Nesta pregação, falarei sobre o Coração de Deus; percebi que o coração, que mais se assemelha ao Coração de Jesus, é o da mulher, principalmente o da mãe. Eu conheci o Coração de Jesus por intermédio do colo da minha mãe. Foi lá que experimentei, de forma até rudimentar, a ter uma vida em Deus. 

Não tenho medo de colocar à prova a verdade; nada poderá me apartar da certeza de que Deus me ama. Não porque li nos livros ou aprendi na faculdade, mas porque vivo essa certeza. Nada pode me apartar desta experiência em meu dia a dia, isso faz parte do meu ministério. Cada vez mais tenho convicção de que, para alcançar essa graça, temos de adentrar no território da intimidade com Deus e com os irmãos. Os meus amigos são aqueles que me fazem ser amigo de Jesus.

A experiência religiosa que nos transforma é a experiência de intimidade. Você sabe muito bem o que é ser íntimo de alguém. “A misericórdia de Deus não comporta pudor”, foi o que nos ensinou o padre Joãozinho em sua pregação. Mas o que é o pudor? É a experiência de reter o que nos é íntimo e não o expor totalmente para todos. 

O pudor é positivo para nos preservarmos e não nos expormos demais. Em muitas situações da nossa vida o pudor nos impede de chegar às pessoas e de fazermos o que não devemos. Por vezes, ele nos faz reavaliar nossos atos por medo do que as pessoas vão pensar de nós. Mas o pudor também pode nos impedir de agir com misericórdia. Por que não temos coragem de ir até os mais necessitados e excluídos da sociedade? Muitas vezes temos medo de andar ao lado de pessoas diferentes de nós, como os drogados, os ladrões e as prostitutas. Muitas vezes, nós também erramos e pecamos, mas somos muito orgulhosos para assumir o erro e pedir perdão ao outro. Quanto mais nós julgamos e humilhamos o outro, tanto mais nós nos escondemos de nossas fraquezas.

O Evangelho de hoje parte de uma revelação do amor de Deus por nós. É pelo amor de um para com o outro que testemunharemos o amor de Deus por nós. Você entende isso? Amados, amar significa sair da própria “tenda” para entrar na “tenda” do outro. 

Quando percebemos que o outro entendeu e se preocupa com o que estamos vivendo, somos confortados, não é mesmo? Nós nos apaixonamos por quem entra em nossa “tenda”, em nossa intimidade. Jesus sabe que a única forma de seguimento que contagiará o mundo é pela capacidade de amar. Quem não entra na “tenda” do outro não aprende a amá-lo verdadeiramente. Só sabemos que existe amor de verdade quando há a disposição de entrar na “tenda” do outro. O seguimento que nos diferencia uns dos outros é o tanto que nós nos amamos. Qual foi a grande missão de Jesus no mundo? A de nos resgatar do pecado, certo? Sim. Mas, antes de tudo isso, o Senhor se dispôs a nos amar. 

Em razão do pecado original, nós sempre vamos querer saber da intimidade de quem amamos e admiramos; contudo, nem sempre vamos saber lidar bem com isso. O que deveria nos impressionar não é a intimidade do outro, mas quem realmente ele é. Irmãos, não podemos ser “cristãos de quinta categoria”! Devemos mover dentro de nós uma mudança de vida. O que deve nos interessar na vida do outro não é aquilo que todos veem, mas aquilo que aquela pessoa é por dentro, em seu ser.

Devemos conhecer o Coração de Deus cada vez mais, e isso só vai acontecer quando nós entrarmos, com a ajuda do Espírito Santo, na Tenda do Seu Sagrado Coração. Jesus não é teoria, mas uma verdade. 

Fico impressionado ao refletir sobre a atitude dos amigos de Jesus, na Última Noite do Senhor, que dormem diante no momento mais importante. Mas, quando olhamos para esses cinco amigos, nós também percebemos que temos chance de nos salvar, não é mesmo? Somos assim, vivemos de forma banal e perdemos tempo com as banalidades do mundo e nos privamos de entrar na intimidade com o Pai. Precisamos adentrar no Coração de Jesus para conseguirmos mudar de vida.
Quando vivemos de forma superficial a nossa religião podemos fazer com o que o contexto cristão permaneça adormecido dentro de nós. O Cristianismo nunca será uma religião supérflua. Aqueles que banalizam o Cristianismo pecam contra o Evangelho! Fique de olho em seu discipulado porque ele pode estar sendo banalizado. Cuidado com sua maneira de ser católico! Cuidado por insistir naquilo que não nos salva! Mergulhe no Coração de Jesus para fugir das banalidades da vida!

Não pode haver uma devoção ao Sagrado Coração sem a ação da misericórdia para com o outro. Amar não é brincadeira; requer um esforço constante para que não reduzamos nem banalizemos o amor. Você não será reconhecido pelo bem que você fizer no silêncio da sua vida, mas você verá que a salvação não é gerada em momento públicos, mas sim quando os holofotes estão apagados. Talvez você nem seja citado no fim da história. O amor pode ser cruel, mas é salvífico. 

Se você quiser conhecer a intimidade com o Senhor ouse conhecer a sua própria intimidade. Investigue em seu próprio coração aquilo que é capaz de o converter. Só se pode conhecer o Coração de Jesus por intermédio da humildade!
Padre Fábio de Melo

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